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Quarta-feira, 05 de junho de 2019

Processo de instalação de mineradora na Região Metropolitana preocupa ambientalistas e comunidade local

O processo de licenciamento de uma mina de carvão, que deve se instalar entre Charqueadas e Eldorado do Sul, vem suscitando o debate entre professores, ambientalistas e a sociedade gaúcha. O tema foi levantado na palestra “Os riscos do avanço da mineração no Pampa e no Rio Grande do Sul”, proferida pelo professor Paulo Brack, do Departamento de Botânica do Instituto de Biociências da UFRGS, na última quarta-feira, 29 de maio. O evento integrou a Semana do Alimento Orgânico, na Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação (Fabico).


Segundo Brack, a comunidade que vive na região onde a mineradora será instalada vem se posicionando de forma contrária ao empreendimento. O motivo é a grande concentração de gases poluentes e outras substâncias nocivas à saúde, que são produzidas a partir da extração e moagem do carvão mineral. “Há muito enxofre no carvão, além de mercúrio e chumbo, metais que, comprovadamente, podem contaminar até mesmo o bebê na placenta da mãe”, explicou. “Hoje, na China, cerca de 200 mil pessoas morrem todos os anos em consequência direta dos gases emitidos pela exploração do carvão”, completou.


Ambientalistas também estão preocupados com a localização definida para a instalação da empresa, a 535 metros do Parque Estadual Delta do Jacuí, a 240 metros de uma área de preservação ambiental e a pouco mais de 1,5 km do Rio Jacuí, o que ameaçaria até mesmo o abastecimento da região metropolitana.


Iniciativas contrárias

“Nós, da UFRGS, precisamos fazer pareceres contrários à mineração nas condições em que se apresenta, incompatível com a região”, defende Brack. Para ele, o Rio Grande do Sul precisa parar de incentivar a exploração de fontes de energia de alto custo financeiro e para o meio ambiente, e passar a investir mais em parques eólicos e sistemas fotovoltaicos. “As energias solar e eólica estão entre as mais baratas, além de serem limpas. Até nos leilões da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), o carvão é mais caro”, explica.


Algumas iniciativas reforçam a necessidade de debater amplamente a questão, como a criação de um comitê formado por diversas entidades sindicais, com a participação da Academia, e audiências públicas sobre o assunto. A próxima será realizada no dia 27 de junho, às 18 horas, no ginásio da Escola Municipal de Ensino Fundamental David Riegel Neto, em Eldorado do Sul.


Sistema de morte

Presente na palestra, a assentada Graciela Storinni de Almeida, que produz alimentos da agricultura familiar em Nova Santa Rita, destacou que é preciso conscientizar a sociedade sobre a ameaça dos megaempreendimentos, independentemente do setor. “Os megaempreendimentos imobiliários e o agronegócio também afetam as áreas urbanas e rurais”, disse. 


A agricultora, que nasceu na Argentina, contou que, no seu país, o discurso pró-mineradoras é de que elas levam empregos e desenvolvimento para as regiões onde se instalam. “Eles (os empresários do setor) chegam nas escolas, doam brinquedos e livros que falam sobre as vantagens da mineração. Com esse discurso vão comprando políticos e outros agentes. Na cordilheira da Argentina e, principalmente, do Chile, há muitas mineradoras. Na época que se instalaram, a gente não se deu conta dos problemas que traziam, por causa do discurso desenvolvimentista”, contou. 


“As pessoas precisam entender que isso não é só ambientalismo, é o futuro da humanidade que está em jogo. Temos que lutar contra esse sistema capitalista, esse sistema de morte”, concluiu Graciela.