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Sexta-feira, 07 de junho de 2019

Eduardo Girotto falou sobre o cenário de incerteza para a pesquisa nos Institutos Federais em entrevista ao Portal Adverso.

As atividades de pesquisa com alunos do IFRS têm conquistado diversos prêmios na área científica. Recentemente, Juliana Estradioto, aluna do campus Osório, foi primeira colocada na maior feira de ciências do mundo, realizada nos Estados Unidos. Hoje, porém, todo este trabalho de excelência está fortemente ameaçado pelo corte de recursos destinados à educação e à pesquisa nas universidades e institutos federais.

Em uma reunião com a presença de dirigentes dos 17 campi que integram o IFRS, foi aprovada a revisão do planejamento para 2019, a fim de garantir a continuidade do funcionamento das instituições. A decisão foi de preservar ao máximo as atividades de pesquisa, já que uma das marcas dos Institutos Federais é a descentralização do ensino.

Em entrevista ao Portal Adverso, o pró-reitor de Pesquisa, pós-Graduação e Extensão do IFRS, Eduardo Girotto, antecipou a possibilidade de algumas ações de pesquisa serem canceladas ou postergadas, caso a política de cortes seja mantida.  Ele aposta em uma reversão do quadro para que os projetos voltem a ser desenvolvidos com qualidade e excelência.

Portal Adverso - É possível traçar um perfil do trabalho realizado pelo IFRS na área da pesquisa?

Eduardo Girotto - As ações de pesquisa e inovação realizadas no IFRS visam o avanço científico, tecnológico, social e cultural da sociedade, com a geração de conhecimento aplicável no dia a dia das pessoas. Além disso, a pesquisa e a inovação são utilizadas no IFRS como princípio formativo de profissionais de nível técnico e superior, onde é fomentada a interação com a comunidade e o setor produtivo, com o incentivo ao desenvolvimento de parcerias com outras instituições e a implantação de ambientes de inovação com intuito de atender as demandas da sociedade.
 
Portal Adverso - O que representa, percentualmente, o corte no financiamento à pesquisa no IFRS?

Eduardo Girotto - O corte ocorreu na ordem de 30% do que era previsto na Lei Orçamentária, o que inviabiliza o funcionamento da Instituição no exercício 2019, além de resultar na imediata suspensão de ações programadas. Implica, portanto, em severos prejuízos aos serviços prestados à comunidade do IFRS, com repercussões nas atividades finalísticas, como os programas institucionais de fomento a projetos de ensino, pesquisa e extensão.
 
Portal Adverso - Quais os reflexos dos cortes no trabalho desenvolvido hoje?

Eduardo Girotto - As instituições federais de ensino vêm ao longo dos últimos anos sofrendo redução nos recursos de custeio e investimento, o que impacta diretamente as atividades de ensino, pesquisa e extensão, e o funcionamento das unidades. Nas instituições que ainda estão em processo de consolidação, como os Institutos Federais, o impacto se apresenta de forma mais drástica ainda. Diversos eventos institucionais relacionados com pesquisa, pós-graduação e inovação, destinados à formação de estudantes e à capacitação de servidores, estão suspensos. Além disso, os projetos que dependem do orçamento do IFRS aguardam uma possível reversão do quadro para que voltem a ser desenvolvidos com a qualidade que sempre lhes foi atribuídos. A formação dos futuros profissionais sofrerá impactos negativos de forma similar ao que está ocorrendo com projetos de pesquisa, sejam esses de longa duração ou novos projetos que, provavelmente, não serão iniciados devido à falta de recurso. 
Todo o estímulo para desenvolvimento de pesquisas e ambientes de inovação fica prejudicado pela incerteza na disponibilização de recursos e ataques aos trabalhos realizados dentro das instituições de ensino.
 
Portal Adverso - Como a Instituição administra a falta de recursos?

Eduardo Girotto - O IFRS tem buscado alternativas, através da realocação de recursos para manter suas ações de pesquisa, pós-graduação e inovação, e para manter a qualidade na formação de seus estudantes e a qualidade de todos os serviços prestados para a comunidade. Contudo, ações e serviços estão sendo afetados e algumas ações de pesquisa serão suspensas, canceladas ou postergadas devido à falta de recursos ou à impossibilidade de prever o que vai ocorrer em relação ao montante de recurso que a instituição irá dispor até o final de 2019. 
 
Portal Adverso - Na sua opinião, qual é a intenção do governo Bolsonaro com os cortes no financiamento para a pesquisa e para a Educação Superior?

Eduado Girotto - A política ou intenções do Governo Federal em relação à pesquisa, à inovação e, por consequência, em relação à produção de conhecimento e sua aplicação para o desenvolvimento de nossa sociedade não é totalmente conhecida. Não está claro quais são as ações que serão prioridades no Brasil nos próximos quatro anos. 
 
Portal Adverso - É possível prever o futuro da pesquisa em nosso País? E das instituições federais de ensino?

Eduardo Girotto - Na pesquisa, grandes descobertas, na maioria dos casos, são resultantes de anos de trabalho e planejamento de longo prazo. A continuidade e a evolução dos projetos de pesquisa no Brasil estão em risco e isso talvez seja o pior cenário para qualquer pesquisador, independentemente da área do conhecimento, porque estamos sujeitos aos caprichos do governo. Como planejar e prever algo se até um determinado mês temos financiamento e, no mês seguinte, não teremos? Sem investimento em educação, ciência e tecnologia, não é possível avançar como país, como sociedade.  
Nas Instituições Federais de Ensino o cenário é de incerteza e insegurança.