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Quarta-feira, 19 de junho de 2019

Salão de Atos da UFRGS lotou para ouvir o sociólogo português falar sobre “As epistemologias do Sul e a reinvenção da democracia”.

Texto e fotos: Daiani Cerezer

O Salão de Atos de UFRGS lotou para assistir o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos falar das contradições entre democracia e capitalismo no atual cenário político internacional. Doutor Honoris Causa outorgado pela UFRGS, ele abordou “As epistemologias do Sul e a reinvenção da democracia”, dentro do Ciclo de Debates “A Universidade do Futuro”, realizado na terça, dia 18, e dedicou sua participação ao educador Paulo Freire e aos jovens da Casa de Cultura Hip Hop de Esteio, onde esteve no domingo, participando do evento “Ecologia dos Saberes”.

Em termos de democracia, afirmou Boaventura, “o nosso tempo é particularmente contraditório”. O século 20, por exemplo, “teve uma agenda de guerras em democracias”, provando que “viver em democracias não quer dizer que se viva democraticamente. Em todo o século, houve ditaduras muito sangrentas, como o nazismo e o fascismo, e em duas guerras, na Europa, foram mortas 78 milhões de pessoas.”

Contradições entre democracia e capitalismo

“Muitas pessoas não podem usar os privilégios que uma democracia deveria oferecer”, ao contrário, “elas vivem em um fascismo social”. Para ele, isso está representado nos espaços segregados dos condomínios fechados, na precariedade das relações e dos contratos de trabalho, na apropriação dos bens públicos por grupos privados, no sentimento fabricado e induzido mediaticamente de insegurança pessoal e coletiva e na dominação baseada nas transações financeiras e na taxação do fator trabalho, por exemplo.

Reinvenção da democracia

O sociólogo acredita que o fortalecimento da democracia passa pela retomada do contato direto com as pessoas, em especial com as populações das periferias, pelos partidos políticos democratas, que não sabem mais falar com as pessoas na linguagem que elas entendem. “A opinião das pessoas não é delas, mas das grandes organizações que as manipulam. Para 120 milhões de pessoas, a fonte de informações é o WhatsApp, além de duas outras: a família e a Igreja. Isso é um perigo, porque quando o poder se torna invisível, a vítima deixa de se opor ao opressor para se opor ao oprimido.”

No final da conferência, Boaventurea e representantes de movimentos sociais e culturais fizeram uma leitura cênica da poesia “Sou um criador”, do seu livro “RAP Global.” O evento encerrou com uma sessão de autógrafos.

O presidente da ADUFRGS-Sindical, Paulo Mors, e o vice-presidente, Lúcio Vieira, compuseram a mesa de abertura do debate, que contou ainda com a participação do reitor da UFRGS, Rui Vicente Oppermann, e da vice-reitora, Jane Tutikian, além do diretor do ILEA, José Vicente Tavares.