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Quarta-feira, 26 de junho de 2019

Márcia Giovenardi acredita que “um momento bastante ruim” ainda está por vir e que os pesquisadores precisam se mobilizar, para mostrar a importância do que fazem dentro das universidades.

A Universidade de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) trabalha em diversos projetos de pesquisa desenvolvidos por alunos da graduação, pós-graduação, mestrado e doutorado. Em 2018, foram publicados cerca de 800 artigos científicos, envolvendo pesquisa básica, pesquisa clínica, educação em saúde e tecnologia em saúde. Em torno de 80% são publicações em revistas indexadas internacionais, em língua inglesa, refletindo a qualidade da ciência produzida dentro da UFCSPA. 
Nessa entrevista ao Portal ADverso, a pró-reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação da UFCSPA, Marcia Giovenardi, explica as estratégias da universidade para driblar os cortes de recursos na área e como isso pode afetar a vida dos brasileiros. 
    
Portal ADverso - Em 2018, a UFCSPA publicou mais de 800 artigos científicos na área da saúde e tecnologia. Paralelamente, a Universidade desenvolve projetos na área da genética clínica, doenças infecciosas e câncer, além do depósito de patentes e registro de software, mostrando um trabalho de inovação de alta qualidade. Como os cortes do MEC afetam a produção científica na Universidade e quais são as áreas mais afetadas? 

Márcia Giovenardi - Os cortes estão afetando todas as áreas da universidade, incluindo a pesquisa e a pós-graduação. Nós necessitamos dos órgãos de fomento, das verbas do governo, para o desenvolvimento de uma série de ações dentro da Universidade. Neste sentido, as áreas mais afetadas são as que necessitam de um investimento maior em insumos, equipamentos, e nos bolsistas, que trabalham nas bancadas dos laboratórios. O impacto, porém, será sentido em toda pesquisa. 

Portal Adverso - Um número muito expressivo de docentes e de alunos de graduação e pós-graduação da UFCSPA são pesquisadores bolsistas. Destes, quem sofrerá mais com os cortes?

Márcia - Já tivemos um corte expressivo no número de bolsas da CAPES, e não houve reversão das bolsas que foram retiradas do sistema das universidades, exceto os programas que tem nota 6 ou 7.  Certamente, a diminuição no número de bolsas para pós-graduação é algo que vai refletir negativamente. Outra preocupação é o CNPQ, que também é um programa de fomento para alunos pesquisadores, que fazem pó-doutorado, entre outras modalidades. O corte no orçamento do CNPQ ou do CAPES impacta diretamente em bolsas para todos da pesquisa, mestrado, doutorado e iniciação científica. 

Portal adverso - Como a Universidade tem administrado esse quadro de escassez? Quais os critérios para aplicação de cortes? 

Márcia - Não é de hoje que a UFCSPA vem se organizando para enfrentar o cenário atual. A diminuição do orçamento está ocorrendo há alguns anos. Em 2018, desenvolvemos ações para driblar essa situação, e a universidade começou a pagar uma série de bolsas de iniciação científica - que já pagava -, mas foi aumentado o custeio das bolsas para mestrado e doutorado. Isso porque alguns cursos, que foram criados após 2015, só recebem as bolsas mínimas no primeiro ano e, depois, nunca mais receberam. Também aumentamos o número de bolsas de iniciação cientifica e o apoio técnico, e estamos investindo em laboratórios multiusuários, com equipamentos que possam ser utilizados por várias pessoas. Eu acho que o caminho é esse: unir as forças para poder trabalhar juntos, com o máximo de pessoas no mesmo laboratório, para potencializar os poucos recursos que temos. 

A UFCSPA lançou, este ano, um edital de fomento para atender aqueles pesquisadores que não estão conseguindo suprir, minimamente, a demanda de material para as suas pesquisas. Também estamos buscando parceiras e convênios com instituições do RS e de todo Brasil, para viabilizar as pesquisas que estão em andamento. Enfim, estamos trabalhando de forma intensa para que os cortes impactem o mínimo possível.  

Portal Adverso - Já existem projetos interrompidos pelos cortes? Como os pesquisadores têm reagido?  

Márcia - A reitoria tem trabalhado num diálogo constante, com o objetivo de achar estratégias. Sem dúvida, a comunidade está muito ciente de tudo o que está acontecendo e esta se mobilizando nas redes sociais, nas manifestações. 
 
Portal Adverso - Quais as maiores contribuições da UFCSPA para sociedade brasileira? O que é mais importante e que o país pode perder com a interrupção das pesquisas?

Márcia – Nós temos uma série de trabalhos sendo desenvolvidos, mais de 50 grupos de pesquisa que produzem conhecimento científico e impactam direta ou indiretamente toda sociedade em diversos níveis, desde o impacto de alternativas para o serviço de saúde até impactos no desenvolvimento de tecnologias. Como nosso foco é a saúde, temos cursos inovadores, como Física Médica, Toxicologia Analítica, Química Medicinal, Informática Biomédica etc.  Esses profissionais estão inseridos dentro da pós-graduação e eles também desenvolvem pesquisas que refletem na sociedade.

Portal Adverso - Nesse cenário, qual é o futuro da pesquisa em nosso País? E das Instituições Federais de Ensino?

Márcia – infelizmente, estamos vivendo um retrocesso. Eu acredito que, para um país crescer, as áreas onde mais se deve investir são a educação e a ciência, mas o que temos visto é o contrário: é um desinvestimento nestas áreas. Eu não quero ser pessimista, mas vamos passar por um período bastante ruim ainda, por isso, os pesquisadores precisam se mobilizar, para mostrar a importância do fazem dentro das universidades. Outra preocupação é que os grandes talentos estão saindo do Brasil. Essa fuga nos preocupa, pois é algo que vai impactar no futuro. Estamos vivendo um período de crise e, daqui a alguns anos, vamos sentir o impacto.
 

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