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Quarta-feira, 30 de outubro de 2019

ADUFRGS é parabenizada por levar o debate da saúde das mulheres ao público.

Por: Daiani Cerezer

A última entrevistada da série sobre o Outubro Rosa é Dora Lúcia de Oliveira, associada da ADUFRGS-Sindical e professora aposentada da Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, onde atuou nos cursos de Enfermagem e Saúde Coletiva. A professora é mestre em Educação pela UFRGS e doutora em Educação em Saúde pela University of London. No Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, participou das Linhas de Pesquisa “Cuidado de Enfermagem na Saúde da Mulher” e “Enfermagem e Saúde Coletiva”, com ênfase na temática da Promoção da Saúde. Confira a análise da professora sobre a campanha Outubro Rosa.

Campanhas educativas de saúde, como a do Outubro Rosa, podem ser benéficas à saúde da população, principalmente por dois motivos. Primeiramente, porque podem gerar espaços de debate sobre as questões relativas ao agravo em saúde, no qual se está querendo intervir. E, em segundo lugar, porque elas trazem conteúdos informativos que podem ser úteis para a prevenção dos problemas de saúde que abordam ou para a minimização dos seus efeitos.  

No caso específico do Outubro Rosa, que endereça suas mensagens a uma mulher “mais ou menos genérica”, com vistas a conscientizá-la sobre a ameaça do câncer de mama e sobre a importância do diagnóstico precoce, ela faz algumas considerações. Quando diz, mais ou menos genérica, refere-se à que a campanha, geralmente, não contextualiza suas mensagens. Elas devem ser válidas ou verdadeiras em qualquer cenário. A ideia parece ser a de que, a partir da informação transmitida, todas as mulheres, independentemente das suas circunstâncias de vida, vão ter as mesmas condições para se cuidar. 

O pressuposto de que se for adicionada uma quantidade ‘X’ de informação ‘Y’ à pessoa ‘Z’, haverá ‘W’ de comportamento saudável, há muito está desacreditado. É preciso ter em conta os condicionantes sociais que limitam as escolhas feitas e que impactam na saúde. Para ela, essa abordagem individualista acaba limitando muito os resultados de campanhas como a do Outubro Rosa. Para que o objetivo de redução da mortalidade por câncer de mama seja alcançado, não basta conscientizar as mulheres sobre os riscos da doença, da importância da detecção precoce e das tecnologias diagnósticas que existem. É necessário, em paralelo, e com a mesma ênfase, facilitar o acesso dessas mulheres a essas tecnologias. Como exemplo, ela questiona a condição de uma mulher que trabalha em horário comercial e tem que acessar o cuidado que o sistema de saúde garante estar oferecendo, se os serviços, na sua maioria, só ficam abertos justamente no horário em que ela trabalha? E mais, como o processo de cuidado não se limita à realização do exame de mamografia, será necessário que esta mulher também tenha disponibilidade para participar das demais etapas desse processo. Neste sentido, a campanha Outubro Rosa poderia (ou deveria) extrapolar o foco na mulher, individualmente responsabilizada pela sua saúde, e investir, também, na conscientização dos profissionais de saúde, dos gestores e do poder público sobre os problemas que as mulheres enfrentam para acessar o cuidado a que elas têm direito. A busca de soluções para estes problemas é responsabilidade de todos os atores envolvidos.     

Segundo Dora, ainda há outros condicionantes para que a campanha Outubro Rosa apresente os resultados esperados na diminuição da mortalidade por câncer de mama, alguns relacionados às condições que as mulheres têm para se cuidarem, outros relativos à qualidade do cuidado ofertado, aí incluídos a qualidade dos exames e do tratamento. 

Uma última questão que a professora levanta é a importância dos cursos de formação em saúde neste cenário. Ela afirma que seria bem importante que a campanha Outubro Rosa “invadisse”, com mais força, as universidades, incentivando o debate crítico. Os cursos de formação também têm responsabilidades a serem assumidas. É no âmbito da formação que se localizam as melhores oportunidades de ampliar nossa compreensão sobre o processo saúde-doença e de inventar novos modos de cuidar. Quem sabe, finaliza, a partir deste debate surjam brechas para romper com a perspectiva individualista que predomina no campo da saúde das mulheres, em especial em abordagens sobre o câncer de mama?

Dora parabeniza a ADUFRGS pela iniciativa de levar este debate ao público.