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Terça-feira, 12 de novembro de 2019

Naomar de Almeida Filho falou sobre os desafios da Universidade e da Democracia.

Texto e fotos: Daiani Cerezer

“Universidade e democracia” foi o tema do evento promovido pelo Instituto Latino-Americano de Estudos Avançados (ILEA), em parceria com a ADUFRGS-Sindical, nesta terça, dia 5 de novembro, no auditório da entidade. Lúcio Vieira, presidente da ADUFRGS, e José Vicente Tavares dos Santos, diretor do ILEA e diretor de Assuntos de Aposentadoria e Previdência do sindicato, integraram a mesa que coordenou o debate. Na abertura, Vieira enfatizou que este é um momento oportuno de se tratar da democracia nas IFES e lamentou que “as universidades estejam enfrentando o seu principal inimigo, que é aquele que deveria ser o seu maior defensor: o ministro da educação”.  José Vicente, por sua vez, lembrou que o palestrante Naomar de Almeida Filho já participou de várias edições do evento “e, agora, encerra um ciclo de sete anos, em que, nas diferentes conjunturas, o futuro da universidade foi debatido”.

Professor de Epidemiologia e ex-reitor da UFBA, Naomar pontuou três princípios que, segundo ele, norteiam as discussões sobre “universidade e democracia”. O primeiro é que a Ciência constitui a forma mais avançada – e única portadora de validade e legitimidade – para produção de conhecimento nas sociedades modernas. O segundo é sobre o Estado democrático, que deve ser um instrumento de promoção da equidade nas sociedades modernas, redistribuindo riqueza, equilibrando poder, promovendo a justiça e garantindo a vida. E, um último, sobre a Educação, que constitui um direito fundamental da pessoa humana, por ser a matriz de todos os direitos capazes de garantir igualdade nas sociedades democráticas.

Naomar, que também é pesquisador convidado do Instituto de Estudos Avançados da USP, resgatou dois séculos de história da autonomia universitária para mostrar que os princípios fundamentais das universidades estão sendo desafiados por um contexto obscurantista no mundo inteiro e, particularmente, no Brasil atual. “O contexto sociopolítico brasileiro é marcado pelo predomínio do mercado sobre o Estado, exclusão da sociedade, submissão a blocos econômicos, crise do Estado democrático, efeitos perversos de crises sociais, retrocesso de políticas públicas, ajustes com perversidade fiscal, racismo e xenofobia, fascismo social e obscurantismo, ou seja, uma política ultra-neoliberal.”

O Brasil vive num “contexto de mal-estar social”

Na avaliação do pesquisador, existem três argumentos que explicam por que o Brasil vive o que considera “um contexto de mal-estar social”: a sociedade brasileira tem suas raízes históricas “no colonialismo e na escravatura, estruturando-se sob desigualdades, opressões e privilégios; ao sofrer, produzir e reproduzir efeitos perversos de uma globalização subordinada, o Estado brasileiro descumpre sua responsabilidade de garantir à sociedade serviços públicos com qualidade e equidade. Já no campo da educação, ao descumprir sua responsabilidade política, o Estado brasileiro gera mal-estar e promove desigualdades sociais. “O Brasil vive uma distopia baseada num governo da ‘escatologia política’, cropolalia no lugar de ideologia, macroeconomia descontrolada, políticas públicas estranguladas, meio ambiente destruído, liberdades ameaçadas, educação perseguida e necromicropolítica”, pontuou.

Ao encerrar o evento, o presidente da ADUFRGS agradeceu a presença de Naomar. “Mais uma vez, a sua participação é muito importante, porque ajuda a pensarmos sobre este momento difícil. Se não a buscar soluções, a nos inquietar ainda mais e refletir coletivamente sobre soluções. Essa é a nossa ideia, essa é a ideia da universidade”, concluiu.