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Sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

Sindicatos do estado se unem para enfrentar momento difícil da conjuntura e do adoecimento emocional dos educadores

A ADUFRGS lançou a “Campanha Saúde mental é uma questão sindical”, em oficina integrante da programação oficial do Fórum Social das Resistências e articula uma rede de sindicatos e profissionais para debater e apoiar docentes nas questões de Saúde Mental. A ideia começou a se concretizar na quarta-feira, 22, durante a oficina.

O debate entre Sônia Mara Ogiba (diretora de Comunicação do sindicato e psicanalista, membro da APPOA e Instituto APPOA – clínica, intervenção e pesquisa em psicanálise), Cecília Farias (diretora do Sinpro e coordenadora do Núcleo de apoio ao professor - NAP), Vera Maria Inês Lessês (diretora sindical do CPERS e coordenadora de saúde dos trabalhadores em educação) e Regina Jaeger (psicóloga da FASE– Fundação de Atendimento Sócio-educativo) faz parte das ações da ADUFRGS no Janeiro Branco, campanha mundial que joga luz sobre a necessidade de construir uma cultura de Saúde Mental no mundo.

Saiba mais sobre as ações da ADUFRGS 

Unidade

A ADUFRGS, CPERS e Sinpro, que representam professores no Rio Grande do Sul, vão organizar uma rede, inicialmente em Porto Alegre, que possa dar suporte aos docentes nas questões ligadas à Saúde Mental, utilizando a experiência e as especificidades de cada sindicato e parceiro. “Vamos trazer colegas e outros sindicatos para agir e enfrentar esse momento difícil da conjuntura. Resolvemos abraçar a questão apesar de toda a complexidade que envolve a Saúde Mental e chamar profissionais de diversas áreas para debatermos o tema além de uma abordagem acadêmica e podermos também intervir para que o professor possa restabelecer de maneira mais plena sua saúde emocional, sua potência de vida”, explicou Sônia Mara Ogiba.

Na abertura da oficina, Sônia destacou que a pauta da saúde é uma preocupação dos sindicatos federados ao PRIOFES, federação da qual a ADUFRGS faz parte. “Há uma demanda muito grande dos professores associados aos sindicatos federados ao PROIFES, em torno da saúde. E nos pareceu muito oportuno aproveitar o espaço do Fórum das Resistências para abrir uma conversa com as pessoas interessadas no tema e os sindicatos que poderíamos contar nesse momento; nos pareceu importante na entrada da ADUFRGS neste tema, ter o Sinpro, com toda sua experiência do setor de saúde do professor e parceria com a APPOA, e a presença do CPERS, reafirmando nossa parceria de longa data, neste momento de muita gravidade pelo qual os professores estaduais atravessam”.

Cada sindicato levou ao debate questões específicas dos diferentes tipos de docência. Cecília Farias do Sinpro RS, sindicato fundado em 1938 que representa professores de todos os níveis e modalidades das instituições de ensino privado do estado, apresentou resultados da pesquisa realizada pelo Sinpro em 2016 que levaram o sindicato a agir sobre a questão da Saúde Mental. Um dos objetivos da pesquisa era entender porque a maioria das licenças de saúde dos anos anteriores à pesquisa se deu por adoecimento mental. “O resultado é muito grave!”, apontou Cecília. “Mais da metade dos professores se sentia explorado, sentia algum tipo de sofrimento ou apresentou distúrbios psiquiátricos como depressão”. Segundo Cecília, naquela época, as questões da organização do trabalho, como as relações com colegas e chefia, e a instabilidade do emprego eram as principais queixas. A partir de 2018, o assédio dos pais e o controle das aulas passaram a ser as principais reclamações para o sindicato e começaram a afetar a saúde mental dos docentes da rede privada. 

Na rede pública do estado, a situação é ainda mais crítica. Há mais de cinco anos sem reajuste, 49 meses com salários atrasados ou parcelados e com o segundo pior piso do país, os docentes vivem sem perspectiva de melhora, o que impacta diretamente na saúde mental do conjunto da categoria. A diretora do CPERS, Vera Maria Inês Lessês, apresentou um quadro muito difícil da situação individual dos docentes, que segundo ela, vai piorar. No ano passado, a categoria realizou uma greve de 57 dias que, pela primeira vez na história de 75 do sindicato, terminou sem acordo. “Sofremos violência moral por parte do estado, o que tem causado o adoecimento psíquico e emocional dos nossos professores. Já tivemos muitos casos de suicídio”, lamentou Vera. A resposta do governo do estado foi cortar o ponto dos grevistas que ficarão sem salário. “Mais de 30 mil professores serão afetados por isso. Temos colegas que não têm dinheiro para pagar a conta de luz”. 

Para amenizar a dura realidade dos professores estaduais, a ADUFRGS e o CPERS estão arrecadando dinheiro e alimentos para os docentes. 

Conheça os detalhes da campanha

Cuidar do trabalho para cuidar da saúde


A psicóloga da FASE, Regina Jaeger, falou sobre a experiência dela junto aos servidores da instituição que atende adolescentes em situação de privação de liberdade. Segundo Regina, o desgaste é alto entre os trabalhadores da FASE por conta da natureza e até do local de trabalho, fechado e restritivo.

A solução na FASE foi criar grupos de trabalho com foco na Clínica do Trabalho. “Queremos retomar a capacidade de agir e pensar do servidor dentro do enfoque da Clínica do Trabalho, que é cuidar do trabalho para cuidar da saúde”. Regina explica que a ideia é incentivar maior participação dos servidores nos processos “que são extremamente normativos e prescritivos, mas com uma faixa grande de imprevisibilidades. Por isso, é preciso criar novas possibilidades de viver”.

Regina afirmou ainda como os sindicatos são importantes nesse processo de analisar outras possibilidades de trabalho e de diálogo. “O modo de viver no capitalismo é extremamente seletivo, inclusive a escola”, disse usando como exemplo a importância da escola na vida dos adolescentes. “Quando o adolescente que tem poucas oportunidades corta o vínculo com a escola, ele corta o vínculo com a sociedade” e cria, segundo Regina, outras conexões que acabam o levando para a criminalidade. 

Assista à íntegra do debate