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Terça-feira, 28 de abril de 2020

ADURN promove live Trabalho e saúde mental, dia 30 abril

O tema da saúde mental vem ganhando destaque nesse período de isolamento social, pois nunca antes na história, as pessoas tiveram que trabalhar, estudar, ensinar, em casa, todos os dias.“De repente fomos pegos nesse fenômeno global, que é algo completamente novo, uma mudança brusca de direção, e radical, nas nossas vidas e na vida das nossas crianças e adolescentes. Estamos todos diante de uma pergunta que não se cala dentro de cada um de nós há mais de um mês, desde que o planeta entrou em quarentena: como tolerar o intolerável? Questão para a qual carecemos das palavras que contribuiriam em muito para aliviar o sofrimento psíquico que assola milhares de pessoas no mundo diante dessa pandemia”, enfatiza a psicanalista e professora da UFRGS, Sônia Mara Ogiba, diretora da ADUFRGS-Sindical.

Por isso, os sindicatos intensificam os debates sobre o tema e na próxima quinta-feira, 30 de abril, a ADURN-Sindicato, do Rio Grande do Norte, promove a live “Trabalho e saúde mental em tempos de pandemia”, com o psicanalista Christian Dunker, professor titular do Instituto de Psicologia da USP. O debate, que tem início às 11 horas no Facebook da ADURN (facebook.com/adurnsindicato) contará com a participação dos professores Alex Alverga e Sérgio Prudente, ambos da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

Por que precisamos falar sobre saúde mental e trabalho

“Fazendo parte da diretoria do ADURN-Sindicato e analisando o dia-a-dia do meu trabalho docente na UFRN vem chamando muita atenção a recorrência de situações de adoecimento psíquico e sofrimento entre colegas docentes, servidoras e servidores e inclusive entre as e os discentes”, destaca Alverga. “Como a minha experiência na temática da saúde mental é bem maior do que com as políticas sindicais, a relação entre estes dois campos me pareceu evidente, mas para minha surpresa ainda é uma articulação pouco debatida no âmbito dos sindicatos e carecendo ainda mais de ações efetivas.”

Para o diretor da ADURN, é preciso dar mais relevância ao adoecimento psíquico e ao sofrimento no trabalho. “Este é um tema de interesse do sindicato, pois implica atuar nas condições de trabalho. Existe bastante literatura no campo da psicodinâmica do trabalho que, em certo sentido, aponta que isso é parte importante das mutações contemporâneas da expansão do próprio sistema capitalista”, afirma.

Saúde mental e trabalho no isolamento social

No atual momento de pandemia, ficar em casa representa um cuidado com a nossa saúde e com a saúde de outras pessoas, mas pode abalar profundamente os sujeitos, adoecendo-os. “É fato histórico de que o trabalho também produz adoecimento. Mas, nesse contexto de isolamento social em que se perdem as relações com o outro, ainda que essas passem a se realizar de maneira virtual, isto pode afetar profundamente a saúde mental da população. Por quanto tempo o ser humano pode tolerar o que é intolarável?”, questiona Sônia Ogiba. 

Segundo Alverga, a suspensão do cotidiano causa preocupações que vão desde o medo de adoecer e morrer, de perder pessoas próximas, até o de não ter como garantir os meios de subsistência, não receber auxílio financeiro adequado, estar separado de parentes e amigos etc. Disto decorrem sentimentos de medo, impotência, tristeza, culpa, angústia e isto é um grande abalo no campo da subjetividade. “O fato de algumas pessoas poderem ficar mais em casa e ter o cotidiano dos afazeres suspenso muitas vezes permite uma maior percepção destas questões e podem gerar um adoecimento. Ainda, a busca por adaptação para um novo ritmo e forma de fazer o cotidiano pelo teletrabalho ou pelas atividades escolares dos filhos em meios virtuais ainda exige bastante de nossa saúde mental”, esclarece.

A quarentena para professores, pais e crianças

Com a necessidade das aulas virtuais, professores e pais se viram diante de uma nova situação, que é o “homeschooling”. Isso vem causando, segundo Sônia, uma série de angústias em ambos os envolvidos e, evidentemente, para as crianças e adolescentes também. “A criança é muito livre, e, embora a escola possa ser disciplinadora, é uma rica oportunidade para exercerem a sua liberdade. Além disso, as crianças precisam da convivência com professores e colegas”, explica.

“A doença mental na infância vem também se agravando nesse momento de crise.  Para que ocorram aprendizagens não basta somente ler e escrever, é preciso  que a criança se exerça diante de seus professores e coleguinhas de aula fazendo uso da palavra e dos seus sentidos, como o olhar e a voz. O homeschooling padece desse elemento, e pode estar também contribuindo para o adoecimento mental na infância”, ressalta a diretora da ADUFRGS, lembrando que o Sindicato vai  também promover  nas próximas semanas duas lives: uma sobre tecnologias e implicações na educação e outra sobre saúde mental.

Em seu canal “Falando Nisso”, no YouTube, o psicanalista  Christian Dunker destaca as dificuldades enfrentadas por esses dois grupos: professores e pais. “É importante a gente entrar em uma repactuação com nossos ideais de ensino. O nível de idealização que a gente tem é muito grande, muito alto e essa situação provoca uma questão problemática para o professor, que é o seu heroísmo”, diz Dunker em um dos vídeos. 

Esse ponto deve entrar na pauta do debate promovido pela ADURN no dia 30 de abril, bem como saúde mental e sua relação com o trabalho em especial, aspectos como mal-estar, sofrimento, produtividade, isolamento social, que dizem respeito não apenas à vida das e dos docentes no momento atual, além de outros pontos que surjam na dinâmica própria da atividade. A live será interativa.