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Sexta-feira, 22 de maio de 2020

Aula Pública da ADUFRGS deixa claro que a criação de políticas públicas é fundamental para proteger as vítimas neste período de isolamento social.

A Covid-19 não causa a violência nem torna os homens mais violentos, mas a pandemia pode ter efeitos sobre o aumento sobre ela, destacaram a médica sanitarista e docente da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), Ana Flavia Oliveira; e a a professora do Departamento de Sociologia da UFRGS e pesquisadora do tema, Paola Stuker, durante a aula pública “Violência contra a Mulher em Tempo de Pandemia”. O evento foi promovido pela ADUFRGS-Sindical, no YouTube, nesta sexta-feira, 22 de maio. 

Na mediação da aula esteve o diretor da ADUFRGS José Vicente Tavares; e o presidente do Sindicato, Lúcio Vieira, abriu e encerrou a transmissão ao vivo. “A situação (da violência contra a mulher) já existe, mas esse período que estamos vivendo faz com que ela ganhe contornos muito mais sérios. A forma como as professoras Ana Flavia e Paola abordaram o assunto não só trouxe luz para o quadro, mas motivou a discusão para que todos nós fiquemos atentos”, enfatizou Vieira.

Segundo Ana Flávia, com as pessoas em casa, o trabalho doméstico, que é feito majoritariamente pela mulher, aumenta. “Esse trabalho pode aumentar o conflito dentro de casa e muitas vezes esse conflito é resolvido pelos homens com o uso da violência para retomar uma posição de hierarquia que eles sentem perdida”, esclarece. “Outro conflito diz respeito à crise econômica e ao desemprego. Quando o homem está desempregado, pode ficar numa sensação de impotência e querer retomar uma posição de poder que ele pode estar sentindo como perdida ao perder o sustento da família”.

Entretanto, para a médica, não há como mensurar o crescimento da violência doméstica neste momento. “Porque para saber se os episódios estão aumentando ou ficando mais graves, a gente teria que ir nas casas das pessoas ou telefonar e perguntar. Ao redor do mundo há relatos de aumento e faz sentido imaginar que ela aumente, mas não temos números que indiquem isso”, ressalta. 

Ou seja, segundo Ana Flávia, pela dinâmica da violência contra a mulher, praticada principalmente dentro de casa pelo companheiro ou familiar da vítima, é posível prever que ela tende a crescer neste período de isolamento social. Porém, a rede de enfrentamento não estava preparada para um atendimento remoto, como o que é possível neste momento, e vinha sofrendo perdas importantes desde a extinção da Secretaria de Políticas para as Mulheres.

“A gente vem numa luta de 30 anos criando serviços, conscientizando e capacitando os agentes numa perspectiva de respeito aos direitos humanos e de gênero. Quando chegou a pandemia, o Brasil estava em um processo de desmonte das políticas públicas, porque a Secretaria de Políticas para as Mulheres foi extinta - e ela foi bastante importante na constituição dessa rede de proteção -, os serviços já estavam com verba menor e menos profissionais”, revela a professora da USP.  

A professora e pesquisadora Paola Stuker reforçou que ao surgir a pandemia do coronavírus, a pandemia da violência de gênero já existia, conforme classificação da Organização Mundial da Saúde (OMS) e à Organização das Nações Unidas (ONU). “Ela está alastrada por todo o mundo e assola a vida das mulheres”, disse.

Dados da OMS indicam que 35% das mulheres ao redor do mundo já vivenciaram um episódio de violência física e/ou social. E estimativas indicam que esse fenômeno aumenta as chances das mulheres terem problemas de saúde, como depressão e ansiedade, de saúde reprodutiva e sexual como abortamento, morte de fetos, partos prematuros, infecções sexualmente transmissíveis associados à violência doméstica crônica ou um episódio agudo de violência sexual.



Com o isolamento social, porém, há fatores que podem agravar a situação, segundo Paola. “Na violência contra as mulheres o epicentro é a vida privada. Pesquisas indicam de 70 a 80% dos casos de violência contra a mulher ocorrem no ambiente doméstico”, destacou.

A solução para o problema, porém, não é o fim do isolamento social e sim a criação de políticas públicas de proteção às vítimas da violência. Paola citou exemplos de  países, como os Estados Unidos, que estão aportando mais recursos para o enfrentamento da violência contra a mulher no contexto do coronavírus; Portugal, que ampliou as casas-abrigos; e a Argentina, onde as mulheres em situação de violência baseada no gênero estão tendo renda garantida. Alguns também estão treinando carteiros para identificar situações de violência e criando códigos de pedidos de ajuda para as mulheres usarem em farmácias ou outros estabelecimentos que frequentem neste momento. 

Embora o governo brasileiro tenha tido algumas iniciativas como a divulgação de um aplicativo para denúncias, elas ainda não são suficientes, na opinião de Paola. “Nem toda a mulher tem acesso à recursos para fazer esse tipo de denúncia. No cenário nacional, 33% dos domicílios não têm acesso à internet. Então, a que mulheres se dirigem essas ações?”, questionou.

Participação do público

Esta foi a quinta aula pública promovida pela ADUFRGS na internet desde os primeiros casos reportados de coronavírus no Brasil. As aulas anteriores estão disponíveis no canal do Sindicato no YouTube. Até o fechamento desta matéria, a aula “Violência contra a Mulher em Tempo de Pandemia” já havia sido vizualizada por mais de 230 pessoas. Veja alguns comentários enviados pelo chat da plataforma:

Bom dia! Parabéns para Adufrgs pela temática!
Simone Algeri

Todas as complexidades envolvendo o tema muito be abordadas. Parabéns!
Alex Niche Teixeira

Claro, didático e muito esclarecedor. Obrigada
Anna Helena

Parabéns pelas excelentes exposições Profa. Ana Flávia e Profa. Paola!!!!
Rochele Fellini Fachinetto

Parabéns às Palestrantes!! Brilhantes colocações!! Continuaremos em Marcha até que todas as mulheres sejam livres de todas as violências.
Dra. Anita

Gostaria de parabenizar as palestrantes que de forma tão didática nos trazem algo que é tão impactante na vida das mulheres.
Patrícia Massanaro

 

Assista à aula pública: