Notícia

Ampliar fonte

Quinta-feira, 11 de junho de 2020

Com autonomia ameaçada, instituições refletem sobre os desafios do retorno às aulas

As universidades e institutos federais da base da ADUFRGS-Sindical já estão se preparando para a retomada das aulas pós-pandemia. Mesmo sem data de retorno definida, uma série de protocolos já está sendo elaborada e professores estão sendo capacitados para lidar com as ferramentas tecnológicas necessárias às aulas remotas, como uma possibilidade que deve ser oferecida na primeira etapa do retorno das atividades de ensino. 

Foi isso o que esclareceram os reitores das quatro instituições - Rui Oppermann (UFRGS), Lúcia Pellanda (UFCSPA), Júlio Xandro (IFRS) e Flávio Nunes (IFSul) – durante aula pública promovida nesta quarta-feira, 10 de junho, no canal da ADUFRGS no YouTube. Além disso, durante a live, os reitores comentaram a edição da Medida Provisória 979/2020, que suspende as eleições para Reitoria e autoriza a designação de dirigentes protempore para as instituições federais de ensino durante o período da pandemia. A aula teve a mediação do presidente da ADUFRGS, Lúcio Vieira.

Quando será a retomada

Para areitora da UFCSPA, Lúcia Pellanda, que é epidemologista, não será este ano que a vida voltará ao normal, mas será uma oportunidade de discutir o que é esse novo normal. Ela apresentou os dados da evolução da Covid-19 no Rio Grande do Sul, que são discutidos no Comitê de Crise criado pelo governo do estado. 
Segundo o relatório epidemiológico, Porto Alegre começou a apresentar alguns surtos específicos e um aumento nos casos de internação em UTIs. “Se continuar nessa tendência, vai haver um esgotamento do serviço de saúde em julho, provavelmente”, alertou.

Assim, não há, de acordo com Lúcia, uma data certa para retorno às aulas presenciais e existem ainda muitos desafios colocados, como o impacto das universidades sobre a circulação geral na cidade, os fatores de risco da comunidade universitária para a Covid-19, a grande proporção de aulas práticas, equipes e monitoramento para os protocolos de prevenção e rastreamento de cada instituição, a falta de recursos para investir nas adaptações em um cenário de retorno, entre outros. 
“Para nós, das universidades e IFs, as soluções têm que ser construídas coletivamente para um retorno que vai ter que ser gradual, escalonado e flexível, considerando toda a diversidade, os diferentes olhares, as necessidades de cada curso e cada área. Mas também vai ser uma oportunidade de repensarmos todo o processo de construção de conhecimento”, destacou. 

Protocolos de retorno

As quatro instituições estão envolvidas com a criação de planos e protocolos para a retomada das aulas quando esta for autorizada. Para o reitor do IFRS, Júlio Xandro, a passagem para o próximo ano letivo será inevitável, bem como medidas de recuperação das aulas com ampliação de carga horária, contraturno, aulas aos sábados, entre outras.

Segundo ele, o plano de retorno do IFRS está sendo elaborado por uma Comissão e precisará de um aporte de recursos de cerca de R$ 2 milhões para ser colocado em prática. A instituição também conta com um comitê de crise para acompanhamento e prevenção da Covid-19, que cuida das ações estratégicas e cotidianas, e um Grupo de Estudo que prepara a retomada do calendário acadêmico.

O plano leva em conta alguns princípios que Xandro classificou como “condições inegociáveis” para o retorno às aulas, tais como: compromisso com o acesso integral dos estudantes, com a integridade da comunidade escolar e com a inclusão. “Não podemos perder de vista qualidade e inclusão dos nossos estudantes, que precisam mais ainda de nós neste momento”, enfatizou.

O protocolo de retomada das aulas na UFRGS também está em fase de finalização e será apresentado em breve à comunidade acadêmica, segundo o reitor, Rui Oppermann. “Está sendo feito um trabalhado fenomenal, um estudo importante e essencial para o retorno, que tem como princípio a defesa da vida, mas a concepção de que precisamos reativar todas as atividades”, afirmou.

No IFSul, o protocolo de retorno está sendo construído em conjunto com a comunidade. “No momento em fase de ouvir a comunidade e sistematizar as sugestões. Depois será feita consulta pública sobre o documento que irá embazar o retorno, declarou o reitor Flávio Nunes.

Inclusão digital

A inclusão digital é o cerne da questão para o retorno das atividades de ensino e os reitores deixaram claro, durante a aula pública, que nenhum deles pretende retomar as aulas sem garantir que todos os estudantes terão acesso à tecnologia necessária. “Nenhum aluno ficará de fora. Vamos buscar as alternativas para inclusão, com levantamentos das necessidades dos alunos”, declarou o reitor da UFRGS.

Oppermann colocou alguns desafios das aulas pela internet e que estão sendo considerados pela UFRGS no plano de retomada: preparo do professor para participar de uma atividade dessa natureza de forma ativa e produtiva, infraestrutura necessária para a possibilidade dos alunos terem acesso, recursos financeiros. 

A universidade já apresentou uma proposta de ensino remoto emergencial para apreciação da Câmara de Graduação. Segundo o reitor, o plano vai permitir que muitas atividades sejam realizadas de forma remota, prevendo o uso das estruturas de laboratório e informática para quem não tem acesso.“Podemos equipar centros comunitários também. Temos como buscar alternativas e já estamos buscando. Não é a EaD dos grupos mercantilistas do Brasil, que sempre condenamos, mas é uma utilização construída por muitos para que a gente possa ter o ensino remoto emergencial”, enfatizou Oppermann.

Flávio Nunes destacou que a dificuldade dos estudantes do IFSul em acessarem as tecnologias fez com que o Instituto abandonasse totalmente a ideia de aulas remotas durante a pandemia. “Não ofertaremos as atividades remotas enquanto durar a pandemia. Mas internamente estamos oferecendo uma série de cursos aos docentes para prepará-los para a utilização das ferramentas tecnológicas, porque entendemos que no retorno das aulas precisaremos ter o apoio dessas atividades”, explicou.

Segundo ele, a maior preocupação da instituição até o momento foi garantir a saúde e o bem-estar dos estudantes. Mais de 30% dos alunos do IFSul tem renda familiar até 1,5 salário. “Pensamos nos estudantes que estão passando mais dificuldades durante a pandemia com a perda de emprego de membros da família e disponibilizamos cestas básicas para mais de 1,3 mil estudantes e famílias que se cadastraram”. 

Para Júlio Xandro, as universidades e institutos federais não poderão se omitir frente ao desafio das aulas remotas, mas a inclusão digital é tarefa do Estado, que deveria investir nisso como política pública. “Essa tem que ser uma preocupação perene, temos que ter um programa institucional para proporcionar o acesso digital sempre, não só no pós-pandemia”, concluiu.

Ataques à autonomia universitária

Diante da recente edição da Medida Provisória que autoriza a intervenção do Governo Federal na autonomia universitária, que foi apresentada na madrugada de terça para quarta-feira, os reitores não puderam deixar de se manifestar durante a live. 

Rui Oppermann se declarou “triste e preocupado” com a situação, pois o processo eleitoral da UFRGS já está correndo e o mandato se encerra em setembro. “Nunca pensei que passaria por uma situação como essa, tendo construído a democracia no Brasil e dentro dessa universidade a minha vida inteira”, afirmou.

A reitoria da UFRGS vem buscando o apoio do Congresso Nacional desde o início da manhã desta quarta e espera conseguir a retirada da MP. “As esperanças estão no Congresso. Vamos continuar debatendo as eleições com MP ou sem MP. Não vamos infringir a lei, mas vamos preservar o que nos resta de autonomia”, ressaltou Oppermann.

Para Júlio Xandro, “a Medida traz sérios prejuízos pro período e deixa muito claro que esse governo não vai desistir e não vai voltar atrás na intenção de intervir nas nossas universidades”. Ele também destacou que o sindicato vai ser muito importante nessa luta.

Flávio Nunes disse que “gestores eleitos democraticamente estão muito mais alinhados com as dificuldades e perspectivas da sua comunidade acadêmica do que as pessoas que vem de fora” e enfatizou que o IFSul também vai trabalhar para que o Congresso Nacional rejeite a MP.

Lúcia Pellanda, que também encerra seu mandato este ano, lembrou que as intervenções já começaram em algumas universidades. “Quando existe essa ruptura do tecido democrático nas instituições de ensino, reflete em todo o país. A universidade é onde existe a pluralidade de ideias. Mais do que um ataque a nossa instituição, a intervenção é um ataque a toda a sociedade”, alertou.

O presidente da ADUFRGS, Lúcio Vieira, leu uma nota de repúdio do Sindicato à MP e ressaltou: “fomos surpreendidos por mais uma ação que ataca a autonomia e ofende a nossa democracia. Estamos todos solidários e todos juntos apoiando as ações em defesa de uma universidade e instituto federal inclusivos, em defesa da vida, da democracia e da autonomia das universidades.

Participação do público

Até o fechamento desta matéria, a aula pública contava com 2,5 mil visualizações no canal da ADUFRGS. Veja alguns comentários:


Nós, da Associação Mães e Pais pela Democracia, estamos com vocês! Força e coragem.
Aline Kerber

Parabéns, ADUFRGS!
Jane Tutikian (vice-reitora da UFRGS)

Ótima esta aula pública - serve para reflexão neste momento de retorno às atividades nas universidades! Parabéns!
Vera Lucia Ribeiro

Parabéns à ADUFRGS pela temática dessa Aula Pública! Parabéns aos participantes pela lucidez das ponderações presentadas!
Malvina Dorneles

Em defesa da vida, educação e saúde públicas!
Felipe Comunello

Obrigada ADUFRGS e aos Reitores que estão à frente. A comunidade deve estar a postos para auxiliar e se colocar à frente também contra a MP. Belíssimas explanações.
Veronica Pacheco

Agradeço a Adufrgs por todo trabalho desenvolvido! Atualizações sempre rápidas! Muito importantes nesse momento.Excelente as colocações dos reitores.
Simone Algeri

Parabéns a ADUFRGS pela iniciativa deste excelente e importante debate! Parabéns à participação dos reitores e demais colegas servidores públicos! A vida em primeiro lugar!!
Mauricio Tavares

Parabéns ADUFRGS! Parabéns Prof. Rui pela afirmação que nenhum aluno ficará de fora. Precisamos assegurar a permanência de todos estudantes, principalmente cotistas!
Fernanda Bairros

Assista a íntegra da aula: