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Quinta-feira, 18 de junho de 2020

ADUFRGS-Sindical promoveu 9ª aula pública virtual para falar sobre Mulher, Maternidade e Trabalho em tempos de isolamento social.

Trabalhar, cuidar dos filhos, da casa, estudar, namorar, cozinhar e ainda arrumar tempo para si mesma. Para entender como as mulheres estão enfrentando estas múltiplas funções durante o isolamento social, a ADUFRGS-Sindical promoveu, nesta quarta, 17 de junho, a aula pública Mulher, Maternidade e Trabalho em Tempos de Pandemia Covid-19. O presidente Lúcio Vieira abriu a atividade destacando a extrema atualidade do tema, que foi debatido pelas professoras Giana Bitencourt Frizzo (Psicologia/UFRGS) e Mariana Calesso Moreira (Psicologia/UFCSPA), e teve a mediação da 1ª Secretária da ADUFRGS, Luciana Boose. 

A temática, explicou a mediadora, tem sido recorrente em grupos de WhatsApp de colegas, que também são mães. Por isso, “a ADUFRGS aceitou o desafio de debater essa situação inédita e inusitada, que é sobreviver à crise e experimentar a maternidade e trabalho neste período”. 

Jornada tripla

A professora Mariana abriu o debate destacando que antes da pandemia a jornada das mulheres já era dupla ou tripla. O que mudou foi o contexto, explicou. Refletindo sobre sua própria realidade de conciliar mestrado, doutorado, duas maternidades, a clínica e a docência, a professora ponderou que “em nenhum momento a mulher para a vida para que as coisas aconteçam” e a pandemia serviu para escancarar as diferenças que existem nas relações sociais. “A crise chega para todos, mas afeta de uma maneira mais substancial alguns, como as mulheres”, afirmou. Para exemplificar, a professora apresentou dados que apontam que, no Brasil, as mulheres desempenham três vezes mais trabalhos não remunerados do que os homens.

A pandemia, segundo Mariana, agudiza essa realidade, porque gera uma tripla jornada. “A mulher precisa se envolver no trabalho doméstico e no trabalho remoto, que ocasiona novas rotinas, uma conexão de 24 horas, uma sensação de que nunca se desliga, os desafios com as tecnologias, um mercado que segue exigindo produtividade, cuidado dos filhos em tempo integral e dar conta dos entes mais velhos. Isso gera angústia, incerteza, medo, em um contexto complicado, que é difícil de ser administrado”, ressaltou.

O que vem após a pandemia é incerto, mas, para a professora da UFCSPA, esse momento se tornou uma oportunidade para refletir sobre a sobrecarga e papéis sociais impostos às mulheres, e que podem ser melhor divididos no dia a dia. Mariana também refletiu sobre os efeitos da pandemia nas crianças e nas relações familiares e sociais, como é o caso da escola. “Como sairemos disso depende da forma como enfrentamos esse período. Ninguém sai igual após enfrentar de uma crise.”

Veja a apresentação da professora Mariana Calesso Moreira

Divisão de tarefas

A professora da UFRGS, Giana Frizzo, trabalha há 20 anos com os temas da maternidade e da saúde mental. No debate desta quarta, ela também trouxe sua experiência pessoal para ilustrar como as múltiplas funções afetam a saúde mental, tanto da mulher como da criança, e a relação familiar. Giana fez uma análise sobre as questões de maternidade, família e a ideia da coparentalidade. 

No modelo social mais prevalente hoje, “tanto o homem quanto a mulher trabalham. Mas, há simetria nos papéis?”, questionou. Ela destacou que, numa situação ideal, ambos veriam o trabalho com igual importância, assim como a divisão das tarefas, como o cuidado da casa e dos filhos. Entretanto, a realidade é diferente, tendo as mulheres somado suas responsabilidades profissionais com as responsabilidades domésticas. 

O ideal, apontou, seria que a divisão das tarefas “satisfizesse as necessidades do casal em comum acordo. Quando para as mulheres essa divisão não é entendida como justa, isso pode levar a sentimentos de sobrecarga e maior conflito entre o seu papel familiar e profissional”.

Giana lembrou que esta realidade também tem efeito sobre as crianças e defendeu que, durante o isolamento social, os adultos devem “incentivar as crianças a expressar seus sentimentos, propondo habilidades de enfrentamento”. As crianças tendem a se recuperar de um evento adverso ou traumático, sendo capazes de retomarem seu desenvolvimento, quando vivem em um ambiente no qual recebem suporte adequado de cuidadores sensíveis e responsivos. Por isso, destacou, cabe aos “adultos regularem suas emoções para que as crianças se sintam amadas e seguras”.

O aumento do convívio familiar durante o confinamento pode, na opinião da professora da UFRGS, oportunizar que os pais sejam os principais modelos para os filhos ou um fator de risco. “As interações entre pais e filhos devem fortalecer os laços para que, assim, atendam de forma adequada as necessidades psicológicas das crianças”, finalizou. 

Veja a apresentação da professora Giana Frizzo

Participação do público

Até o fechamento desta matéria, quase 300 pessoas haviam assistido à live no canal da ADUFRGS no YouTube. O público em geral se identificou com a temática e interagiu durante a transmissão ao vivo. Leia alguns comentários deixados no chat do canal:

Parabéns a ADUFRGS pelo seu aniversário e pela iniciativa dessa aula tão relevante nos tempos que vivemos!
Aline Correa de Souza

Muito bom!!! Parabéns pelo tema e pela escolha das palestrantes!
Luciane Slomka

Muito importante poder parar para ouvir e refletir sobre a nossa própria realidade e não sentir-se sozinha. Obrigada pela aula!
Bianca Russo

Excelente!! Tema relevante para além da pandemia.
Prisla Ücker Calvetti

Muito interessante a temática e às possibilidades de conversa oferecidos pela ADUFRGS!
Ana Rispoli

Assista à Aula Pública Mulher, Maternidade e Trabalho em Tempos de Pandemia Covid-19: