Notícia

Ampliar fonte

Quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

Interrupção das aulas abriu espaço para soluções tecnológicas privadas

A Internacional da Educação (IE) acaba de lançar o relatório “Pandemia e Privatização no Ensino Superior: Tecnologias Educacionais e Reforma Universitária”, no qual examina em detalhes as várias maneiras em que a mercantilização e privatização do ensino superior tentam avançar, por meio da tecnologia educacional e programas de transformação digital durante o fechamento de campus e interrupções na atividade universitária em 2020. O surgimento da pandemia também fez com que o ensino superior se abrisse para soluções tecnológicas privadas.

No relatório, que pode ser lido na íntegra em Inglês, os pesquisadores da IE argumentam que, embora não sejam uma opção negativa por si só, pois as tecnologias podem trazer vantagens significativas para as universidades, ela influencia o setor privado a impor seus valores e objetivos ao ensino superior.

“Temos que ver a associação da tecnologia à educação com muito cuidado. Se, por um lado, ela facilita a formação a distância, oportunizando às pessoas que assistam às aulas onde quer que estejam; por outro contribui para despotencializar a importância das relações interpessoais no processo de ensino-aprendizagem e instituir o que  poderíamos chamar de  “docência digitalizada”, mediada, portanto, pelas telas de computadores e dos teclados e não pela palavra de professores e estudantes”, opina a diretora de Comunicação da ADUFRGS-Sindical e professora da Faculdade de Educação da UFRGS, Sônia Mara Ogiba, que atualmente está na coordenação geral do Fórum Municipal de Educação de Porto Alegre.

Para Sônia, a pandemia foi o fator determinante para a aceleração digital na educação, contudo, a mudança foi abrupta, sem que todos os envolvidos, professores e estudantes, estivessem preparados. “Muitos dos alunos das universidades públicas não têm recursos tecnológicos para acompanhar as aulas e, nós, professores, tivemos que nos desdobrar para atender a todos, sem distinção”, pontua. 

“Essa mudança tecnológica, porém, não pode ser feita sem uma reflexão sobre o acesso à educação superior, principalmente em um país como o nosso, com tamanhas desigualdades sociais, econômicas e culturais, com crescente violação dos direitos humanos, podendo ficar ainda mais restrito a partir da visão privatista do ensino. É preciso reagirmos à invasão dos reformuladores empresariais na educação em todas etapas e modalidades de ensino, com suas lógicas mercantilistas e suas políticas de formação de caráter tecnocrático”, conclui.

De acordo com reportagem publicada no portal do PROIFES-Federação, o relatório da IE aponta que a expansão da tecnologia educacional privada é de natureza econômica. “A pandemia tem sido muito lucrativa para muitas organizações privadas no setor de educação”, diz o texto. Esse fato pode ser verificado em estudo realizado pela agência de inteligência do mercado HolonIQ, que calculou que o investimento total de capital de risco em tecnologia educacional ultrapassou US$ 16 bilhões somente em 2020, um movimento que foi descrito como suporte financeiro para uma abordagem que visa a transformar a forma se aprender sobre o  mundo. 

Para acessar o relatório completo: Pandemia e Privatização no Ensino Superior: Tecnologias Educacionais e Reforma Universitária, de Hogan, A. e Williamson, B. (2021), clique aqui. O sumário executivo em espanhol pode ser consultado aqui.