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Quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Ainda sem cura, a Epidermólise Bolhosa afeta o tecido conjuntivo e causa bolhas na pele e membranas mucosas, com incidência de 1:50.000. 

Investigação científica realizada pelo laboratório de Microbiologia da Universidade, juntamente com dermatologistas, avaliou perfil micro-biológico de pacientes diagnosticados com Epidermólise Bolhosa, para um 
trabalho desenvolvido pelo Curso de Especialização em Dermatologia.

Em tempos difíceis para a pesquisa dentro das universidades brasileiras, a equipe da área de Microbiologia da UFCSPA tem se destacado, com muitos projetos premiados, a exemplo de recente trabalho desenvolvido em parceria com o Curso de Especialização em Dermatologia. De autoria da residente Juliana Tosetto Santin, sob a coordenação da médica Ana Elisa Kiszewski Bau, o estudo sobre o Perfil Microbiológico de Pacientes Diagnosticados com Epidermólise Bolhosa (EB) Congênita em um Serviço de Dermatologia foi contemplado com o primeiro lugar na categoria Investigação Científica, do Prêmio Fernando Terra, da Sociedade Brasileira de Dematologia. O trabalho é resultado de uma parceria realizada com a equipe do Laboratório de cocos gram-positivos – Microbiologia da Universidade, que, durante as análises de materiais coletados por Juliana, encontrou Staphylococcus aureus, patógeno oportunista que apresenta elevadas taxas de resistência aos antimicrobianos. Ainda sem cura, a doença afeta o tecido conjuntivo e causa bolhas na pele e membranas mucosas, com incidência de 1:50.000. Resulta de um defeito na fixação da epiderme na derme, o que provoca fricção e fragilidade da pele. 

A ideia surgiu em 2014, após a professora Ana Elisa revisar sua agenda de pacientes com este diagnóstico. “Percebi que, nos últimos dez anos, aproximadamente 20 pessoas tinham sido atendidas. Por se tratar de uma doença genética rara, este número seria suficiente para realizar uma pesquisa científica”, comenta a docente, que atua como vice-coordenadora do Curso de Especialização em Dermatologia UFCSPA. Em 2015, ela convidou a residente Juliana Tosetto Santin, para realizar o seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) nesta área, avaliando o perfil microbiológico dos pacientes com EB. “Elaboramos o projeto e convidamos o professor de Microbiologia Pedro Alves d´Azevedo, a mestranda Adriana Medianeira Rossato e a doutoranda Renata Soares, para integrar a equipe”, conta a docente. 

Aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa com Seres Humanos da Universidade (CEP/UFCSPA), a pesquisa iniciou naquele mesmo ano e durou cerca de doze meses. “Nosso foco maior foi isolar o microrganismo e verificar o perfil de resistência, que, quanto maior, menos possibilidades de tratamento oferece”, explica o docente. A ideia é justamente gerar condições para o desenvolvimento de novos tratamentos e medicações para a doença.

Estudo deverá ser ampliado

“Tivemos que nos reinventar, ainda que este não seja um estudo caro, então deu para fazer um bom trabalho com pouco dinheiro”, comenta d´Azevedo, referindo-se ao momento de contingenciamento de verbas pelo qual passam as universidades públicas do País. O laboratório realiza paralelamente uma série de pesquisas (cerca de 12) ligadas a alunos de estágio curricular, iniciação científica, mestrado, doutorado e pós-douturado. Este é o segundo prêmio conquistado em parceria com o curso de Dermatologia, ressalta o professor de Microbiologia. Em 2010, d´Azevedo recebeu o prêmio de melhor pesquisador pelo Siemens Healthcare Diagnostics, por analisar a resistência de glicopeptídios em Staphylococcus aureus. Trabalhar em parceria, segundo o docente, é uma forma de se realizar pesquisas com bons resultados, com poucos recursos.

Uma parceria com o Departamento de Genética da Ufrgs, através da geneticista e professora Lavínia Schuler Faccini e de sua aluna de doutorado Luiza Mariath, está permitindo a ampliação do estudo recentemente premiado. “Pretendemos avaliar o perfil microbiológico, assim como mutações genéticas encontradas nos nossos pacientes e também naqueles provenientes de outras regiões do País, por meio de outras parcerias”, destaca Ana Elisa. Com a possibilidade de aumentar a amostra de pacientes avaliados, Juliana poderá realizar seu projeto de mestrado nesta linha de pesquisa.  

Os resultados da pesquisa Perfil Microbiológico de Pacientes Diagnosticados com Epidermólise Bolhosa (EB) Congênita em um Serviço de Dermatologia já foram apresentados em dois congressos, um mundial em Amsterdã (Holanda) - Europeu de Microbiologia Clínica, em abril de 2016, e outro na Capital gaúcha, em setembro de 2016. “Este trabalho tem grande importância, pois é o primeiro a analisar o perfil microbiológico nos pacientes com EB no Brasil, e isso nos permitirá avaliar a frequência de resistência bacteriana nestes pacientes”, reforça a orientadora, Ana Elisa Kiszewski Bau. “Sabemos que a expectativa de vida deles pode ser bastante reduzida e que a sepse (infecção generalizada) é a principal causa de morte.” Segundo a docente, os resultados obtidos poderiam mudar condutas hoje utilizadas na terapêutica, além de determinar a antibioticoterapia mais adequada para estes pacientes.  

 


Foto: Araldo Neto
Texto: Adriana Lampert
ADverso/Edição 222 - Setembro/Outubro - 2016

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