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Sábado, 20 de agosto de 2016

Paulo Machado Mors, presidente da ADUFRGS-Sindical

Eleito o 14° presidente da história da ADUFRGS, o professor do Instituto de Física da UFRGS, Paulo Machado Mors, vai comandar a entidade no triênio 2016-2019. Entre as prioridades do novo gestor, que tomou posse em 19 de agosto, está a consolidação da expansão da base do Sindicato e o fortalecimento do PROIFES-Federação nas mesas de negociação. Paulo Mors assume o Sindicato em um momento histórico, em que a ADUFRGS conquista uma ampla e moderna sede. Segundo ele, a ideia é promover eventos culturais e de lazer, para que o associado usufrua dos novos espaços, e fortaleça seus vínculos com a entidade. Já na conjuntura nacional, os desafios serão de manter a unidade da categoria em tempos de incertezas. Mors garante que o Sindicato seguirá com uma postura plural e independente, sem ligação partidária. O docente avalia como preocupante as ações do governo de Michel Temer, especialmente com relação ao projeto de constituição (PEC 241/2016) que prevê um arrocho no salário dos servidores para os próximos 20 anos. Na sequência, confira a entrevista do novo presidente da ADUFRGS-Sindical.

Adverso - Quais serão as ações prioritárias de sua gestão à frente do Sindicato?

Paulo Mors - Nossa missão imediata é sedimentar a expansão. Agora, teremos o sindicato em 12 municípios. Nós vamos estreitar relação com os docentes e buscar filiações nas instituições que, agora, fazem parte da base territorial da ADUFRGS. Isso é o que temos de mais imediato. Paralelamente, estamos preparando uma intervenção bastante efetiva na UFRGS e na UFCSPA, no sentido de ampliar a representatividade do Sindicato. Outra frente importante é a nossa organização em âmbito nacional. Temos que continuar somando esforços com os outros sindicatos federados, no sentido de fortalecer o PROIFES, de reconhecê-lo como legítimo interlocutor da nossa categoria.

Adverso - Como a questão da expansão do sindicato será tratada na sua gestão? Que medidas serão adotadas para engajar novos professores nas atividades do Sindicato? 

Paulo Mors - A expansão ocorreu por iniciativa dos professores de fora de Porto Alegre, que não faziam parte da ADUFRGS-Sindical. Nós começamos a interagir com eles e, por sermos também uma associação, acabamos incorporando alguns ao nosso quadro social. Porém, o que eles queriam era o direito à sindicalização, e que a entidade a representá-los fosse a ADUFRGS, não outra. Houve, por parte destes professores, a percepção de que o Sindicato é o principal garantidor da dignidade do seu trabalho. Um entendimento que também é nosso e que vamos trabalhar nas campanhas de filiação. Nós precisamos convencer, principalmente, o professor mais jovem, que está entrando, que o Sindicato não é apenas um ente político, que passeatas e greve não são a única forma de participação dos docentes. Queremos mais do que isso. Nosso objetivo é garantir a dignidade do professor. Por isso, eu repito: dentro da UFRGS, existe um grande contingente de não sindicalizados e, entre os sindicalizados, uma participação reduzida nas atividades sindicais. Hoje, os professores da extensão de base são muito mais engajados do que os de Porto Alegre. Possivelmente, é o reflexo de um acomodamento.

"Não sei o que vai ser mais difícil: se conquistar novas sindicalizações ou motivar a participação dos que já são sindicalizados. Não tenho resposta pronta para dar. Será o grande desafio da nossa Diretoria."

Adverso – A propósito, a eleição que escolheu a nova Direção da ADUFRGS-Sindical teve uma baixa participação dos professores da UFRGS. Na sua avaliação, a que isso se deve? O que fazer para que os professores tenham um papel mais ativo nas mobilizações e decisões do Sindicato?

Paulo Mors – Fomos eleitos com o voto de 42% dos sindicalizados do IFRS, quase 37% do IFSul e quase 40% da UFCSPA. Já na UFRGS, apenas 11,32% dos filiados votaram. Este é um dado muito preocupante, que não pode ser ignorado, e que a nova Direção terá que enfrentar. Não sei o que vai ser mais difícil: se conquistar novas sindicalizações ou motivar a participação dos que já são sindicalizados. Não tenho resposta pronta para dar. Será o grande desafio da nossa Diretoria. Na minha avaliação, um dos caminhos é promover agitação cultural na nova sede, e utilizar estas ações como instrumentos de mobilização. Eu espero não ter que mobilizar somente em momentos de grande crise ou na hora de fazer uma greve, por exemplo. O sindicalista responsável é aquele que, preferencialmente, não quer conduzir a categoria que representa para uma greve, porque a greve é sempre o último recurso em um processo de negociação. Eu prefiro mobilizar agitando culturalmente. Temos condição de promover debates em diversas áreas, inclusive na política, e com viés partidário, com porta-vozes das diversas linhas ideológicas.

Adverso - Quais os planos para potencializar o uso da nova sede da ADUFRGS?

Paulo Mors – Nós temos um belíssimo espaço que é do professor. A nova sede será transformada num centro de debate e de desenvolvimento cultural, social e de lazer dos associados. Vamos incentivar a realização de projetos por grupos que tenham interesse em comum.

Adverso – Ainda há baixa adesão ao Funpresp por parte dos professores que ingressam na carreira. Na sua avaliação, por que isso ocorre e o que pode ser feito para reverter essa realidade?  

Paulo Mors - Nós não vivemos no melhor dos mundos. Então, o funcionário público brasileiro, em particular, quando faz concurso e ingressa na carreira, não tem o plano de previdência que nós, mais velhos, ainda temos por direito adquirido. Para quem está ingressando agora, o plano de previdência é muito restrito. Sem um complemento, a sua aposentaria será o teto do INSS. Por esse motivo, há três anos, foi criado o Funpresp. Contudo, tenho observado que poucos professores, que estão ingressando na carreira, pensam em fazer esse investimento de pecúlio. Como todo o jovem, ele se considera eterno e saudável para sempre. Isso é uma característica da juventude, bastante invejável, mas imprudente. Alguns são persuadidos a boicotar esse tipo de previdência, acreditando na promessa de que será possível retroagir a situação anterior. Isso é um erro. Não podemos comprometer o futuro de um colega, a sua aposentadoria, em nome de algo que não podemos garantir. Por isso, outra missão que temos é fazer uma ampla campanha sobre o que é o Funpresp. Nossa página na internet já explica isso. Também temos uma cartilha muito bem feita sobre o Fundo, mas vamos continuar esclarecendo. Tenho visto uma resistência muito grande, que trará prejuízo sério, grave e irreversível para daqui a 30 anos.

"A nova sede será transformada num centro de debate e de desenvolvimento cultural, social e de lazer dos associados. Vamos incentivar a realização de projetos por grupos que tenham interesse em comum."

Adverso - A nova diretoria conta com novos cargos, que visam aprimorar o atendimento aos associados. O que isso vai representar na prática?

Paulo Mors - É um marco na história do Sindicato. Desde a sua fundação, como associação, as diretorias tinham (no nome) funções específicas, mas, de fato, funcionavam de forma colegiada e as tarefas eram distribuídas de acordo com a disponibilidade de cada um, já que somos todos voluntários. Os nomes dos cargos não eram muito representativos das suas atribuições. Agora, pela primeira vez, temos cargos com funções específicas. Nós pretendemos, realmente, fazer a divisão de tarefas de acordo com a nomenclatura dos 13 cargos da Diretoria, ocupados por 11 diretores. Procuraremos ter isso mais definido daqui para frente. Por exemplo, queremos que o diretor de assuntos do Magistério Superior (MS) esteja focado, prioritariamente nesta área.

Adverso - Atravessamos momentos difíceis na política nacional. Qual será a postura do Sindicato neste período de incertezas? Como contemplar, no âmbito de atuação da ADUFRGS, posições tão radicalmente opostas quanto às visões existentes na categoria com relação à conjuntura nacional?

Paulo Mors - A nossa postura será a mesma que tem sido adotada até aqui. É um problema que se agravou nos últimos meses e que ocorre em nível nacional, com os outros sindicatos federados. Tem sido pauta de debates no Conselho Deliberativo do PROIFES-Federação, do qual eu faço parte. Nossa posição, basicamente, é manter a unidade. Sabemos que a nossa categoria é bastante heterogênea do ponto de vista ideológico. Há posições mais ou menos extremadas de vários lados, que nos pressionam. Temos sofrido pressões, mas é nossa obrigação manter a unidade, em nível local e em nível nacional. A nossa preocupação é a dignidade do trabalho do nosso docente, do nosso filiado, da nossa base. E tudo que estiver relacionado a isso, no campo político, é do nosso interesse e está no âmbito do nosso trabalho. Porém, acima de tudo, está a nossa definição de pluralidade, de não ter vínculo com partidos e não ter compromisso político-ideológico. Sabemos que é impossível satisfazer a todos. Quem nos acusa de falta de posicionamento, está faltando com a verdade. Temos posicionamento e ele é muito firme: preservar a unidade e não nos submeter a partidos políticos. Isso não tem tradição na história sindical brasileira? Bem, conosco vai ser diferente... o que não impede que integrantes da Diretoria sejam filiados a partidos políticos. Qualquer cidadão que quiser ser filiado a um partido é livre para fazê-lo, mas sem comprometer a nossa pluralidade.

"Quem nos acusa de falta de posicionamento, está faltando com a verdade. Temos posicionamento e ele é muito firme: preservar a unidade e não nos submeter a partidos políticos."

Adverso - Como o senhor avalia os primeiros meses do governo Michel Temer?

Paulo Mors - Acompanho com muita preocupação. Eu não estou, com isso, dizendo que esse governo é pior que o anterior. Não é isso. Esse governo está tendo que trabalhar a pior recessão da história do Brasil, pior que 1929 e 1930. E não foi o Temer que construiu essa recessão, obviamente. Agora, eu não quero fazer a análise do que aconteceu até a chegada dele. Eu me preocupo muito com o que ele pode fazer daqui para frente. Eu acredito que ele está atacando os problemas do Brasil de maneira muito questionável e é nisso que o nosso sindicato deve se fixar. Nós temos que nos preocupar com o que o governo está fazendo, que é muito perigoso, porque a recessão existe, a crise é dramática e as consequências são cruéis para o trabalhador. O que esse grupo, que está no governo, está fazendo é propor soluções que vão cada vez mais penalizar os que mais sofrem.

Adverso – Como dirigente sindical, quais ações do governo Temer mais o preocupam?

Paulo Mors – O Projeto de Constituição (PEC 241/2016), que prevê um arrocho violento para os próximos 20 anos, é um exemplo. Esse projeto é muito preocupante porque asfixia a classe trabalhadora. E é por 20 anos. Outra coisa horrível: a Previdência foi transferida para o Ministério da Fazenda, ou seja, um setor do governo que deveria atuar sob o princípio da solidariedade, vai ser totalmente entregue à gestão financeira. Isso é muito perigoso e mostra a visão que esse grupo tem: a Previdência tem que dar lucro, portanto, deve estar ligada ao Ministério da Fazenda. Por outro lado, como um País como o nosso tem que se desenvolver, a primeira preocupação de um governo deveria ser a Educação, principalmente a Educação Básica. Nós somos um sindicato de educadores do nível EBTT e Magistério Superior, mas o descuido com a Educação Básica também se reflete neste nível. E não vamos construir um país respeitado sem investir em Educação. Na prática, os investimentos em Educação ainda são vistos como despesa, como gasto. E já existe um temor de que o PNE (Plano Nacional de Educação) não seja cumprido. Ele foi duramente elaborado, discutido, votado e conquistado. Agora, há um medo de que ele não receba uma atenção prioritária. Essa é a preocupação. Uma nação que quer ser respeitada também precisa investir em ciência e tecnologia. Mas o que esse governo fez? Extinguiu o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), e o colocou junto com o Ministério das Comunicações. Não tem nada a ver uma coisa com a outra! Isso só evidencia o pouco caso, o pouco interesse com ciência e tecnologia nesse País. Eu tenho visto com muita preocupação e com muito pessimismo essas atitudes. Se, como governo interino, ele (Temer) já tornou a Previdência um negócio, que tem que dar lucro, acabou com a gestão privilegiada da ciência e tecnologia, não considera prioridade o PNE e lança um projeto para 20 anos de arrocho, o que nos espera quando ele deixar de ser interino? Então, é muito preocupante! Temos que ficar muito atentos. Mais do que nunca, o sindicato tem que se fortalecer, a Federação precisa crescer e se consolidar. E não existe um sindicato forte, uma federação forte, sem apoio da base. 

Perfil

Nascido no Rio de Janeiro, Paulo Machado Mors tem 68 anos. Físico formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), é docente do Instituto de Física da UFRGS há mais de 40 anos. Graduou-se Mestre e Doutor na UFRGS e realizou estágio de Pós-Doutorado, de dois anos, no Laboratório de Sólidos da Universidade de Paris-Sul. Atuou por mais de 25 anos como pesquisador em Física Teórica, até passar a se dedicar à pesquisa em Ensino de Física e à formação de professores de Física de nível médio (em Graduação e em Pós-Graduação). Na administração acadêmica foi Coordenador de Curso, Chefe de Departamento, membro do Conselho Universitário, entre outras responsabilidades. Iniciou a militância sindical no Conselho de Representantes da ADUFRGS-Sindical. Na última gestão, exerceu a função de segundo-secretário. Compõe o Conselho Deliberativo do PROIFES-Federação.

 

Foto: Daiani Cerezer
Texto: Araldo Neto
ADverso/Edição 221 - Julho/Agosto - 2016