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Sábado, 10 de novembro de 2018

Dados foram divulgados pelo Ministério da Saúde

Texto: Daiani Cerezer

O número de suicídios aumentou, gradativamente, no Brasil, entre 2000 e 2016. Segundo dados do Ministério da Saúde, um comparativo entre o ano 2000 e 2016 mostra que o número de pessoas que tirou a própria vida cresceu 73%, de 6.780 casos para 11.736. As maiores taxas de crescimento foram registradas entre jovens e idosos. As estatísticas apontam que, ano após ano, mais brasileiros cometem suicídio. Em 2016, por exemplo, o aumento foi de 2,3% com relação ao ano anterior.

Hoje, no Brasil, ocorre um suicídio a cada 45 minutos ou 32 por dia, em média. Acredita-se, porém, que há altas taxas de subnotificações decorrentes do tabu, do preconceito e de outras situações. Nestes casos, é comum os suicídios serem registrados como acidentes de trânsito, acidentes com arma de fogo, intoxicação alimentar, quedas, asfixia mecânica, entre outras motivações.

O coordenador do Grupo Executivo Nacional do Programa Centro de Valorização da Vida (CVV), Anildo Luiz Pereira Fernandes, não dispõe dos números oficias de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul, mas, segundo ele, o Estado tem a maior taxa de suicídios do País. Algumas cidades, como Venâncio Aires, têm taxas superiores a países europeus, que registram alguns dos maiores índices do mundo. Para ele, é motivo de apreensão o número de jovens entre 15 e 25 anos e crianças de 10 a 14 anos, que tiram a própria vida. Nesta faixa etária, o suicídio já é a terceira causa de mortes no Brasil, só perdendo para os acidentes de trânsito e homicídios.

Grupos de risco

No grupo de risco, estão os idosos (a partir dos 70 anos), os homens (quatro vezes mais do que as mulheres), os jovens (segunda causa de morte entre 15 a 29 anos, no mundo), indígenas, policiais, profissionais da área da saúde (médicos, enfermeiros, psicólogos e dentistas) e pessoas com transtornos mentais (depressão, ansiedade, bipolaridade, síndrome do pânico e esquizofrenia).

O suicídio não tem uma causa única

O suicídio é multifatorial, não há uma causa única. Existem as causas primárias e, entre elas, estão as perdas pessoais, que ocorrem desde o nascimento, e os fatores desencadeantes, que podem ser qualquer acontecimento traumático, como a perda do emprego, a perda de um amor ou um amor não correspondido.

No Grupo de Apoio aos Sobreviventes do Suicídio (GASS), que atua na prevenção do suicídio, Fernandes teve contato com pessoas identificadas como “sobreviventes”, que são familiares de alguém que cometeu suicídio. “O que eles relatam é o estigma imposto pela sociedade, o sofrimento da perda, a raiva inicial pela impotência, a saudade”, conta. Ele conheceu, também, os sobreviventes de si mesmo, ou seja, pessoas que tentaram o suicídio. “Eles falam da dor, sofrimento, sensação de abandono, invisibilidade, cobranças excessivas, visão de túnel sem saída”, explica.

Sinais de alerta

Segundo o coordenador do CVV, os principais sinais de alerta que devem ser observados para identificar e ajudar alguém que está pensando em suicídio, são frases do tipo: “Tenho vontade de dormir e não acordar”, “Quero viajar e não voltar”, “Meu Deus, me tira daqui!”, “Que inferno é minha vida!”, “Cansei!”, além de mudança de hábitos e mudanças repentinas de humor.

Como oferecer ajuda

Percebendo sinais de alerta, o coordenador recomenda “cautela e respeito” na aproximação, “sem dar conselhos, sem ser muito direto, sem tentar amenizar a dor e sem desprezar o que ele sente, acolhendo com empatia e ouvindo com atenção”. Segundo ele, deve-se buscar ajuda profissional, sem imposição. “Muitas vezes, a pessoa se sente tão acuada que precisa ser acompanhada por alguém em quem ela confia”, com a condição de que se estabeleçam “laços fortes de respeito e aceitação”.

Fernandes explica que, para apoiar uma pessoa que sofre com o suicídio de alguém próximo, “é preciso ouvir e escutar, ou seja, falar menos e ouvir mais, valorizando o que ela tem para nos dizer”. Essa conversa deve ser “um diálogo e não uma disputa verbal”. Muitas delas têm dificuldade de se manifestar sobre o assunto e este silêncio precisa ser respeitado. “Não podemos arrancar respostas. É necessário prestar atenção em suas ações, pois elas podem estar tão abaladas com a perda, que também acabem pensando em tirar a própria vida”, alerta.

Ligações sigilosas e gratuitas

O CVV é uma associação civil sem fins lucrativos, que trabalha com prevenção ao suicídio, por meio de voluntários treinados para dar apoio emocional a todas as pessoas que querem e precisam conversar.

Todas as ligações são sigilosas e gratuitas para o número 188.

A previsão é que mais de 2,5 milhões de atendimentos sejam realizados este ano.

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