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Quinta-feira, 03 de janeiro de 2019

Filósofo colombiano naturalizado brasileiro diz que vai combater marxismo cultural e ideologia de gênero e defende memória da ditadura no Brasil

Texto: Manoela Frade

Foto: Marcello Casal Jr/ Agência Brasil

Colombiano naturalizado brasileiro, Ricardo Vélez Rodríguez é o ministro da Educação no governo Bolsonaro. Até sua indicação feita por Olavo de Carvalho, Vélez era praticamente um desconhecido no meio educacional brasileiro. Após a confirmação de seu nome, apoiado pela bancada evangélica, suas posições ultraconservadoras e sua falta de experiência na gestão pública passaram a ocupar as preocupações de especialistas que temem uma ruptura do pacto social construído nos últimos 20 anos na área educacional.

Daniel Cara, coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação (CNDE), acredita que o teto de gastos estabelecido pela Emenda Constitucional 95 deve limitar projetos audaciosos de mudança estrutural, e que por isso mesmo, a gestão do novo ministro ficará confinada a uma batalha ideológica sobre a concepção de educação que tem vigorado no país desde a Constituição de 1988. "Ele terá dificuldade de ter grandes projetos e, com isso, deve optar por caminhos relacionados à disputa sobre a concepção de projeto educacional", disse o especialista em educação ao Jornal Valor Econômico em novembro, no dia seguinte à confirmação do nome de Vélez. Cara acredita que o projeto pensado para educação como um instrumento de justiça social, pautada na cidadania e direitos humanos previsto na Constituição de 1988 deve sofrer uma ruptura brusca. “Isso deve mudar no governo Bolsonaro, para uma educação essencialmente disciplinadora".

Este foi exatamente o sentido do primeiro anúncio do novo ministro, ainda no dia 1º de janeiro: a criação de uma subsecretaria que cuidará de "iniciativas cívico-militares". Para o portal G1, o ministro declarou que "os colégios militares no Brasil representam um modelo que dá certo, que tem disciplina, que tem bom desempenho nos índices de avaliação". Esse modelo, segundo Vélez, "traz de benefício disciplina, a possibilidade de as crianças terem uma orientação de educação para cidadania".

Ideologia de gênero e o marxismo cultural

No discurso de transmissão de cargo, no último dia 2, Vélez disse que vai priorizar a educação básica e culpou o marxismo e a ideologia de gênero pelo fracasso educacional brasileiro. O novo ministro exaltou a Igreja, os valores tradicionais e prometeu combater a ideologia marxista que “faz mal à saúde da mente, do corpo e da alma porque secciona o ser humano, porque o torna massa, o torna coisa”.

"Combateremos o marxismo cultural, hoje presente em instituições de educação básica e superior”, disse o ministro no discurso. “Trata-se de uma ideologia materialista alheia aos nossos mais caros valores de patriotismo e de visão religiosa do mundo".

“À agressiva promoção da ideologia de gênero somou-se a tentativa de derrubar as nossas mais caras tradições pátrias. Essa tresloucada onda globalista, tomando carona no pensamento gramsciano, que num irresponsável pragmatismo sofístico, passou a destruir um a um os valores culturais em que se segmentam nossas instituições mais cara, família, igreja escola, o estado e a pátria”.

Perguntado sobre qual o percentual de professores que defendem o marxismo em sala, Vélez afirmou que é "difícil ter um dado estatístico". "Mas a gente vê os resultados. Os nossos baixos índices nas provas internacionais é uma coisa que é endêmica no Brasil, a falta de autoestima do professor, decorrem dessa nossa Educação", disse.

Educação Superior

O novo ministro assumiu afirmando que vai priorizar “a educação básica, com o desenvolvimento de políticas públicas de combate – principalmente ao analfabetismo –, mas também de fortalecimento da educação em creches e escolas, de jovens e adultos, na educação especial de pessoas portadores de deficiências e na gestão das escolas, para que os estudantes concluam seus estudos no devido tempo”.

Sobre o ensino superior, Vélez disse que vai dar foco ao tripé ensino, pesquisa e extensão, e a inovação tecnológica nas universidades, aperfeiçoando programas de incentivo ao empreendedorismo para a inserção no mercado de trabalho. Além disso, “vai dar atenção aos fundos de investimento em educação e ao ensino privado, para fortalecer a qualidade dos cursos oferecidos”.

Perfil

Nascido na Colômbia e naturalizado brasileiro, Vélez Rodríguez tem 75 anos e é graduado em filosofia pela Universidade Pontifícia Javeriana, da Colômbia, e em teologia, pelo Seminário Conciliar de Bogotá. Indicado para o cargo por Olavo de Carvalho tem boa relação com os militares e recebeu apoio da bancada evangélica. É professor emérito da Escola de Comando e Estado Maior do Exército e autor de livros sobre liberalismo e política do País.

Vélez mantém um blog (hoje com acesso restrito a leitores convidados) no qual escreve suas opiniões sobre política e economia no Brasil. Em um dos textos publicado em abril de 2017, o novo ministro afirmou que o dia 31 de março de 1964, início da ditadura militar no Brasil, é “uma data para lembrar e comemorar”. “Nos treze anos de desgoverno lulopetista os militantes e líderes do PT e coligados tentaram, por todos os meios, desmoralizar a memória dos nossos militares e do governo por eles instaurado em 64".

Vélez também fez duras críticas à Comissão da Verdade, "que, a meu ver, consistiu mais numa encenação para ‘omissão da verdade’, foi a iniciativa mais absurda que os petralhas tentaram impor". Sobre mortes e torturas na ditadura, disse apenas que “houve excessos no que tange à repressão”.

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