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Sexta-feira, 05 de abril de 2019

Segundo o neurocientista Roberto Lent, cientistas e educadores precisam se unir para elevar a qualidade do ensino

A ciência tem muito a contribuir para as políticas públicas voltadas à educação. Quem afirma é o neurocientista Roberto Lent, que proferiu a palestra “Ciência para a Educação: a hora é agora” no campus do Vale, nesta terça-feira, 3 de abril. O evento integra o Ciclo de Debates Universidade do Futuro, promovido pela ADUFRGS-Sindical em parceria com o ILEA.

Autor de diversos livros na área, Lent acredita que, se fossem utilizadas na educação, as pesquisas translacionais poderiam elevar a classificação do Brasil no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA). O país ocupa, hoje, a 65ª posição no ranking realizado pela OCDE para medir a qualidade da educação em 70 países. “Os gestores poderiam adotar a pesquisa translacional como política pública. Com vontade e recursos chegaremos à média da OCDE em 2060, mas se aplicarmos a pesquisa, aceleramos essa meta para 2030”, ressaltou o neurocientista.

Confluência de disciplinas

A pesquisa translacional é um ecosistema confluente no qual todas as disciplinas se baseiam em evidências científicas para contribuir com demandas sociais.  A prática foi adotada com sucesso na saúde. Na educação ela começou a ser explorada há pouco tempo em países como Estados Unidos, China e Austrália. No Brasil, as iniciativas não encontraram, ainda, atenção governamental.

Para difundir a idéia e buscar apoio entre educadores, cientistas brasileiros criaram a Rede Nacional de Ciência para a Educação, em 2014. As reuniões iniciais ocorriam no Rio de Janeiro, mas hoje há representação no país inteiro e uma série de estudos sobre o assunto. “Essa Rede tenta fazer uma ponte entre cientistas e professores, estreitar a comunicação para criar um ecossistema que permita avançar mais na educação”, ressaltou.

Exemplos de aplicação

As possibilidades de aplicação da pesquisa translacional são infinitas. Roberto Lent lembrou, por exemplo, a medida provisória que modificou o currículo do Ensino Médio, durante o governo Temer. Na época, a exclusão da Educação Física do currículo chegou a ser anunciada, mas o governo voltou atrás. Se a medida tivesse sido levada adiante, só teríamos uma avaliação do resultado após 10 anos ou mais, conforme os indicadores educacionais. Porém, se tivessem perguntado aos neurocientistas e neuropsicólogos, “as pessoas que elaboraram a medida teriam visto que existem muitas pesquisas atribuindo a melhora da memória ao exercício físico.”

Ou seja, com dados científicos, a taxa de risco na implementação de uma política pública é mais baixa. Além disso, concluiu Lent, a pesquisa translacional proativa vai da análise básica até a criação de instrumentos que podem contribuir para o aprendizado em sala de aula.