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Segunda-feira, 22 de abril de 2019

Ciclo de debates propõe reflexão sobre o potencial da aplicação do pensamento científico em sala de aula

O Instituto Latino-Americano de Estudos Avançados (ILEA) promoveu nesta quarta-feira, 17 de abril, mais uma edição do ciclo de conferência Educação para a Ciência, que conta com a parceria da ADUFRGS-Sindical. Desta vez, foram três os recortes apresentados: Matemática para sala de aula, Ciência Participativa e o case da Escola Municipal de Ensino Fundamental Heitor Villa Lobos sobre robótica educacional.

A ideia das conferências é refletir sobre como a ciência pode ser aplicada em diversos níveis educacionais, desde o infantil até o ensino superior. “Qualquer ciência pode contribuir para estruturação do pensamento dos estudantes”, ressaltou o professor do PPG em Informática na Educação Marcus Vinícius Basso.

Em sua palestra, ele apresentou alguns exemplos de aplicação da Matemática desde os primeiros anos da infância até a adolescência em aspectos como saúde, natureza e ecologia, economia, moradia, consumo comercial, meios de transporte e tecnologia. No caso do tema moradia, os alunos podem ser estimulados a construir maquetes e pensar sobre medidas e proporções. Com relação ao consumo comercial, ele usou o exemplo de uma conta de água ou de energia, cuja composição do valor pode ser analisada em sala de aula.

Participação popular na Ciência

Em sua exposição sobre Ciência Participativa, o professor do Instituto de Física Rafael Pezzi explicou que há, basicamente, quatro categorias de participação do público em empreendimentos científicos: doação de capacidade de processamento de dados, análise de dados, coleta de dados e cobaia de experimentos não consentidos. “Esse é o lado obscuro da Ciência Participativa”, ressaltou.

Entretanto, segundo Pezzi, é possível fazer muito além do que processar dados ou testar produtos químicos no próprio corpo. “Com o engajamento dos estudantes e professores que desafiem questões como falta de tempo, de recursos e que tenham noções dos riscos e responsabilidades, é possível levar a Ciência Participativa para a escola.”

Esse é o objetivo do Centro de Tecnologia Acadêmica do Instituto de Física da Ufrgs, do qual o professor faz parte. A instituição busca desenvolver todas as formas de conhecimento e tem atuado na criação de instrumentos científicos educacionais, como o monitoramento ambiental cidadão, feito com estações meteorológicas modulares.

Campeões da robótica

A última exposição da tarde foi um case sobre robótica educacional, apresentado pela professora Cristiane Pelisolli. Ela contou a trajetória do projeto que coordena na Escola Municipal Heitor Villa Lobos, no bairro Lomba do Pinheiro, em Porto Alegre, e da equipe Lobóticos, que recebeu o prêmio de melhor apresentação na RoboCup Junior OnStage 2018, realizada no Canadá.

Os alunos arrecadaram R$ 60 mil para viabilizar a ida da equipe para a competição, que consiste em uma apresentação de dança com robôs. Segundo Cristiane, houve resistência por parte da Secretaria Municipal de Educação (Smed) para financiar a viagem e o caso ganhou notoriedade nacional.

A trajetória dos Lobóticos, entretanto, iniciou em 2007, com a compra de um kit de robótica “Mindstorms”, da Lego. Na época, a professora percebeu que poderia desenvolver um bom trabalho usando o kit e começou a testá-lo com crianças desde os anos iniciais até os finais do ensino fundamental.

Entretanto, o projeto teve diversas dificuldades para se manter. “A continuidade do trabalho com material muito caro como este é complicado”, disse a professora. Além do custo, havia a questão das aulas serem extracurriculares e a falta de compreensão de alguns gestores, conforme Cristiane, sobre a importância das competições internacionais para fortalecimento do projeto. “Uma gestora disse que era muito dinheiro investido para que os alunos ficassem ‘viajando’. Mas os professores se esforçaram para mostrar a importância de participar dos eventos de robótica”.

De acordo com a professora, a participação em competições acrescenta muito ao desenvolvimento dos estudantes e fez com que a auto-estima de todos na escola se elevasse. A primeira competição internacional vencida pelos alunos foi em 2010 e consistiu na criação de um carro movido a energia solar, para substituir as carroças que recolhiam lixo na cidade e haviam sido proibidas pela prefeitura. “Partimos de um problema social para encontrar a solução através da robótica”, explica.

Mais tarde, surgiu a oportunidade de participar dos eventos de dança com robôs e Cristiane viu ali a chance de integrar outros grupos da escola. “Os alunos das oficinas disseram que construiriam os robôs, mas não dançariam. Então, falei com o grupo de ‘contação de histórias’ e fizemos um projeto integrado”, relata. A ideia deu tão certo que rendeu diversos prêmios, entre eles o mundial do ano passado, no Canadá. O vídeo da apresentação está disponível neste link, no YouTube.