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Sexta-feira, 26 de abril de 2019

Professor falou no Ciclo de Debates Universidade do Futuro na UFRGS

Texto e fotos: Manoela Frade

A produção científica brasileira ocupa a 13ª posição mundial, com uma virtude, segundo o professor Glauco Arbix do Observatório de Inovação da USP, “está espalhada em uma gama muito diversificada”, ou seja, temos pesquisa em todas as áreas do conhecimento. Para Arbix, esse perfil da ciência brasileira “faz parte de uma plataforma que permite o Brasil avançar em vários níveis, ainda mais porque a ciência hoje é obrigatoriamente interdisciplinar”, explica. 

O professor ex-presidente da Finep, agência pública que financia inovações no país, foi o convidado da última edição do Ciclo de Debates Universidade do Futuro, promovido esta semana pelo ILEA com apoio da ADUFRGS.

Na palestra, com mediação do presidente da ADUFRGS, Paulo Machado Mors, Glauco falou sobre a posição da ciência brasileira no mundo e como o investimento de 30 anos nessa área está ameaçado em função da política de cortes sinalizada pelo governo federal. 

Glauco Arbix conversou com o Portal ADverso após o seminário. Confira trechos da entrevista.

“Temos participação na ciência mundial com artigos científicos de primeira linha em várias áreas, mas precisamos acelerar mais para conseguir sintonizar [essa produção] com o que há de mais avançado no mundo. Isso significa que não podemos entrar na política de cortes de verbas e de diminuir o papel da ciência. Ao contrário, temos que, mais do que preservar aquilo que nós conseguimos, avançar e dar passos mais ousados. O Brasil precisa e merece Isso”.

Sobre a política de cortes, Glauco se refere, por exemplo, à Emenda Constitucional 96, que desde 2016, congelou por 20 anos os investimentos sociais, o que sufocou a educação superior pública, e por consequência, a ciência e tecnologia, com cortes orçamentários sistemáticos desde então. O atual governo, segundo Glauco, tende a piorar o cenário porque tem dado sinais que podem inverter a lógica da ciência brasileira, tornando o Brasil um importador de pesquisa e conhecimento.

“Corremos o risco de que as universidades acabem degradando sua atividade”, receia Glauco. O que pode destruir o sistema de produção do conhecimento no país com “um impacto muito grande na formação de gente, na formação de professores, e com certeza, em todo o sistema educacional brasileiro”. O professor também fez um alerta sobre diminuir a importância da ciência ou pior, negar que haja produção de qualidade no Brasil. “Não existe país desenvolvido, avançado sem uma educação e uma ciência de qualidade. Temos que ser muito cuidados para não repetir erros passados e achar que podemos sobreviver sem o estímulo e o incentivo da produção de conhecimento relevante”.

Uma política desse tipo, aponta Glauco, que desvaloriza o papel da ciência só se sustenta quando se pensa um Brasil subserviente à tecnologia e ao conhecimento estrangeiro. “O Brasil que eu penso tem dinamismo, potencializa a inteligência, valoriza a criação e o conhecimento novo”. Glauco acredita que o governo aponta para outra direção quando o próprio presidente da República nega a produção científica brasileira. “A política que se expressa apenas pelos cortes, e que a gente se sente muito impotente diante deles, é uma política que não tem a transparência [necessária] que precisamos ter para pensar o país. Ela é muito ruim, muito negativa. Ela Tem um impacto negativo sobre a moral da gente, sobre a maneira que a gente se estrutura, como a gente trabalha. O que é difícil aceitar é que as universidades, os centros de pesquisa entrem em processo de degradação porque isso é uma tragédia que nós vamos colher frutos ruins, negativos daqui a 10 ou 15 anos”.

Você pode ver a íntegra da palestra aqui.