Discurso de posse do novo presidente da ADUFRGS-Sindical, Paulo Machado Mors
Jacques Le Goff, pensador, escritor e o mais aclamado medievalista do último século, informa-nos, em uma aula sobre o surgimento da universidade no Ocidente: “O século XIII é o século das universidades, porque é o século das corporações”.
Universidade e sindicato, portanto, têm essa origem comum. Já então o direito de greve era uma prerrogativa, quando das negociações com a Igreja e com as cidades, que abrigavam as universidades. A autonomia universitária também data da mesma época.
Não somos, portanto, nenhuma novidade. Nós, da ADUFRGS-Sindical, temos exercido, no melhor de nossas possibilidades, as três funções básicas de um sindicato: a função negocial, a função de representação, a função assistencial. Sociedade de Direito Privado, e não de Direito Público, como ocorre em regimes totalitários, historicamente ancorados no anarco-sindicalismo da Primeira República, herdeiros do ordenamento legal do Estado Novo e, finalmente, regidos pela Constituição Cidadã de 1988, estamos, hoje, representando uma nova feição do sindicalismo brasileiro.
Originários de um movimento acadêmico que se recusou a aceitar a ingerência de determinações político-partidárias no Movimento Docente, aliados a uma dezena de outras instituições sindicais, que se juntaram para formar o PROIFES-Federação, representamos uma nova forma de fazer sindicalismo, onde as decisões provêm das bases e a pluralidade é nossa marca dominante. Em sua essência, tem o sindicato como missão a conciliação do trabalho com o capital.
No nosso caso, em que o ambiente de trabalho é a Instituição Federal de Ensino Superior – Institutos e Universidades Federais – e o trabalhador é o docente do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico e o do Magistério Superior, torna-se difícil desenhar a fronteira entre os interesses conflitantes. No entanto, um aspecto de nossa luta é muito claro, evidente, inalienável: a defesa da Educação Pública. Sem uma educação universal e pública, não há como pretender construir uma nação respeitada. Não estamos a defender o monopólio público da educação; muitos são os educandários comunitários de excelente qualidade.
No que tange ao ensino superior, muitas academias privadas exercem sua pesquisa, sua produção de conhecimento, sem prescindir de aportes públicos. E isso é perfeitamente natural, em se tratando de um investimento de toda uma sociedade em seu futuro. O que nos preocupa é a abertura que se está dando, atualmente, para que grandes conglomerados financeiros internacionais ocupem espaço em nosso sistema educacional. Tais grupos, com ações em bolsa de valores, em nada diferem de redes de supermercado, que são negociadas entre detentores de poder econômico.
Não é este o caminho mais apropriado para a formação de nossos jovens. E uma forma de abrir mais espaço aos mercadores do ensino é degradar a educação pública. O combate à mercantilização do ensino, e a tudo que a favoreça, é, portanto, uma de nossas principais missões. O compromisso com a educação pública nos obriga à defesa do respeito ao Plano Nacional de Educação, à defesa da restauração do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, à denúncia do corte violento de bolsas de Iniciação Científica do CNPq, e de tantas outras ameaças que hoje nos cercam. Esta é nossa obrigação, na defesa de uma nação melhor.
Quero afirmar que suceder minha colega Maria Luiza é, para mim, uma honra e, ao mesmo tempo, uma responsabilidade e um desafio enorme, após esses cinco anos em que ela se entregou de coração ao Sindicato.
Muito obrigado.
Paulo Machado Mors
19 de agosto de 2016
ADverso/Edição 221 - Julho/Agosto - 2016