por Madalena Guasco Peixoto

Coordenadora-geral em exercício da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimento de Ensino

Quarta-feira, 17 de outubro de 2018

O roteiro orquestrado pelo programa de Bolsonaro e do PSL é o da destruição da educação pública, gratuita, democrática, inclusiva e de qualidade socialmente referenciada

Por Madalena Guasco Peixoto

A mensagem circulou pelo WhatsApp, encaminhada, sobretudo, por eleitores de Jair Bolsonaro (PSL), mas também pelos simpatizantes de outras candidaturas que tentaram passar a ideia de uma pretensa novidade, como a de João Amoêdo (Novo): “Você que no próximo domingo vai votar em escola pública estadual, aproveita e beba água no bebedouro, passe pelo banheiro abandonado, depois entre na sala calorenta pra votar, com paredes deterioradas, verifique a estrutura das cadeiras e das mesas e lembre quais os governantes já tiveram a chance de fazer algo que foi dito nas campanhas e não fez… olhe também qual partido eles faziam parte (sic)”.

Pode parecer uma cobrança legítima por melhoria de infraestrutura, mas o texto esconde uma perversidade. Ao ser enviado precisamente por quem vota em projetos com intenções privatistas, a mensagem traz, na verdade, mais uma tentativa de desmoralização da escola pública e de justificar sua entrega aos interesses do mercado, como se a iniciativa privadafosse a grande solucionadora de todos os problemas. A proposta de distribuição de vouchers, por exemplo, disfarçada no plano de governo de Bolsonaro como “renda mínima”, mas defendida publicamente por seu filho, é uma dessas iniciativas que, sob o falso argumento de legar à família a escolha sobre a escola dos filhos, destrói a educação pública.

Foi o que aconteceu com o Chile, quando o Estado deixou de financiar diretamente as escolas e passou a subsidiar os próprios estudantes. O país submeteu as instituições de ensino à lógica do mercado, apostando numa competição entre elas — já que as escolas só receberiam as subvenções de acordo com a quantidade de estudantes (ou seja, de portadores de vouchers) — para melhorar a qualidade. O resultado, pela experiência chilena, é o inverso: escolas menores passam a sofrer com falta de recursos, insuficientes, por exemplo, para investir em infraestrutura (essa mesma que foi tema da mensagem disseminada no aplicativo de mensagens).

A proposta de vouchers, contudo, não é a única nociva à educação presente no programa de Bolsonaro. Pelo contrário, são muitas. Uma delas é a militarização do ensino; outra é o macarthismo do movimento Escola Sem Partido e seus projetos de Lei da Mordaça, com os quais o candidato do PSL compactua ao defender que “conteúdo e método de ensino precisam ser mudados” e exigir “mais matemática, ciências e português, sem doutrinação e sexualização precoce”, além de prometer “expurgar a ideologia de Paulo Freire”. Há vários perigos entranhados aqui.

Escola não é quartel. E o que as experiências de militarização revelam, na verdade, não é um modelo de disciplina, mas, sim, de doutrinação (essa sim) antidemocrática, de submissão dos estudantes e de ensino de um conteúdo alienante. O candidato explicita seu desconhecimento total do papel da educação em uma sociedade democrática e o direito dos estudantes de construírem suas opiniões. Escancara também que segue as orientações do capital internacional que, enxerga o Brasil como país subserviente, ao qual não cabe a produção autônoma e crítica de conhecimento. O que esses interesses internacionais orientam para a educação brasileira e para os jovens trabalhadores é o conhecimento das chamadas “disciplinas básicas” ensinadas de forma rasa. Há que se destacar que não é essa a mesma orientação que é dada para os chamados países desenvolvidos e tampouco para as escolas dos filhos dos donos do capital.

Na prática, o roteiro orquestrado pelo programa de Bolsonaro e do PSL é o da destruição da educação pública, gratuita, democrática, inclusiva e de qualidade socialmente referenciada. Se o lema do candidato é “Brasil acima de tudo”, valendo-se de um suposto nacionalismo, esse Brasil está longe de ser a nação soberana pela qual lutamos. Pelo contrário, está mais para um Brazil (com Z mesmo, como na música de Aldir Blanc e Maurício Tapajós) que, com sua violência, autoritarismo, ideias fascistas e propostas daninhas, está matando o Brasil.

 

Madalena Guasco Peixoto é coordenadora-geral em exercício da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimento de Ensino

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