Notícia

Ampliar fonte

Segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

Confira a primeira entrevista da ADUFRGS para a campanha Janeiro Branco

Durante este mês, a ADUFRGS-Sindical adere à campanha Janeiro Branco e intensifica os debates sobre as questões relacionadas à Saúde Mental. Nesta entrevista, a nova diretora de Direitos Humanos do PROIFES-Federação, que também é coordenadora do GT Direitos Humanos: Raça/Etnicidade, Gênero e Sexualidades, Rosangela Gonçalves, fala sobre como a federação passou a incorporar os debates sobre os direitos humanos no cotidiano da luta sindical e aponta que a atenção à Saúde Mental ganha destaque no próximo período. “O ser humano é complexo e múltiplo em sua própria construção material, mental e emocional, o que faz parte da nossa essência. A Saúde Mental é fundamental para nossa sobrevivência e, por isso, deve ser entendida como um direito humano”.

Portal ADverso  - Como o GT Direitos Humanos tem pautado esses temas na federação?

Rosangela - Este é um GT muito acolhedor com um princípio de respeito muito bacana; onde um cresce, o outro cresce junto. E nas discussões, vimos a necessidade de aprofundar a concepção de direitos humanos, para além da educação, saúde ou moradia. Debatemos, por exemplo, o direito das mulheres de estarem na gestão dos movimentos sociais sindicais. E eu entro na diretoria com essa perspectiva. Na nossa gestão do Sindiedutec temos uma maioria de mulheres. Então levamos pro PROIFES o debate sobre o lugar da mulher em posição de liderança e a manutenção desse poder. O debate amplia a noção de direitos humanos.

Entendemos que as pessoas não são metades ou partes, elas são inteiras. São mente, pensamento, sentimento. O ser humano é tudo isso, todo esse caldo que precisa ser entendido e pensado para garantir a sustentabilidade deste ser na sua complexidade e plenitude. O GT nos ajuda a fazer essa liga no mundo do trabalho, mas não só isso. 

Portal ADverso - Como a Saúde Mental entra nesse debate? 

Rosangela - A Saúde Mental é fundamental para nossa sobrevivência. Não adianta ter um físico protegido se por dentro estou absolutamente desesperançada, entristecida, se estou enfraquecida nas minhas perspectivas de futuro ou nas condições de trabalho. É muito diferente o que vivemos agora. O espaço e o tempo estão na mesma linha dimensional. Antes eu tinha espaços e tempos separados. Agora, os dois estão na minha casa. Minha intimidade e o público no mesmo lugar, no mesmo horário. Isso é muito complexo e afeta o emocional, adoece, entristece. Para além de tudo isso, temos as relações da pessoa com o cotidiano. 

Portal ADverso - Como isso se relaciona com a pandemia e este momento de isolamento?

Rosangela - Estamos em um contexto de extrema tensão e isso é pauta emergencial do GT; pensar o direito da pessoa de ter uma vida saudável, espiritual e física, mas emocional também. Todas essas situações negacionistas (sobre a gravidade da doença e a vacina) pioram e abalam a saúde mental das trabalhadoras e trabalhadores da educação, que o PROIFES representa. Professores e técnicos administrativos estão sofrendo emocionalmente. Um governo que não dá suporte e que ataca. Essa realidade de dizer que as vacinas não são boas, que há risco. Estamos vivendo tudo isso intensamente e ao mesmo tempo. Uma adrenalina negativista intensa, e mesmo assim, você é cobrado, precisa dar aula com o seu computador, a sua internet, na sua casa, atendendo o filho, falando com aluno. É difícil manter um equilíbrio emocional neste momento. Então, esse suporte é necessário e o PROIFES está atento a isso. 

Portal ADverso - Como GT concretiza esse debate?

Rosangela - São passos. Nós estamos construindo um processo, destruindo uma cultura. Refazendo a leitura e o entendimento de uma cultura completamente diferente do que a gente defende. A gente está indo para outro caminho. Temos um trabalho de receber denúncia, questão jurídica, apoio, que são princípios de orientação aos sindicatos. As ações são construídas com os sindicatos nas suas bases, mas antes temos um passo ou dois. Primeiro temos uma acolhida a essas necessidades materiais e emocionais de cada pessoa, de cada sindicato, de cada região e situação no que diz respeito ao gênero, sexualidade, raça e etnia. Analisamos como isso se dá e o que essas pessoas sentem para o GT entender o caminho que deve seguir ou o que é necessário fazer.

O GT se dedicou muito à formação dos membros. Trouxemos nos encontros (três encontros nacionais desde 2017) especialistas que têm essas áreas de pesquisa para subsidiar nossas compreensões sobre as complexidades dos direitos da pessoa humana. Isso para a Saúde Mental também. Além disso, para trabalhar Saúde Mental você precisa ter espaços de acolhimento e escuta. Como eu trabalho, por exemplo, com uma professora que foi abusada ou discriminada na minha escola? Ela precisa ser escutada. Não pode ser julgada. Como eu aprendo isso? Então essa formação é um processo contínuo.

Vamos decidir para o próximo período ações mais propositivas para toda a categoria dos docentes. O sindicato atende sua base e a federação faz a amarração, a articulação nacional. Podemos pensar não apenas em um seminário, mas em um movimento de informação da população, uma discussão no legislativo, por exemplo, sobre pautas dos direitos da pessoa humana que estão sendo violadas, e tudo isso tem a ver com Saúde Mental.