Há vários anos, a UFRGS é a líder absoluta na produção de sementes para o mercado nacional de aveias, com registro no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).
Os trabalhos de campo do Programa de Melhoramento Genético de Aveia são desenvolvidos na Estação Experimental Agronômica da UFRGS, em Eldorado do Sul, e os trabalhos de laboratório, no Departamento de Plantas de Lavoura da Faculdade de Agronomia.
Há vários anos, a UFRGS é a líder absoluta na produção de sementes para o mercado nacional de aveias, com registro no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Mas nem sempre foi assim. No final dos anos 60 e início dos 70, as principais variedades cultivadas no País tinham características típicas de plantas forrageiras, ocupavam uma área insignificante e apresentavam baixa produtividade. As primeiras sementes introduzidas aqui, vieram dos Estados Unidos e da Argentina, de onde importávamos a maior parte da aveia consumida pelos brasileiros. Em 1974, o professor da Faculdade Agronomia da UFRGS, Fernando Felix de Carvalho, retornou de um doutorado nos Estados Unidos, trazendo na bagagem uma coleção de sementes, doadas pelo professor H. Shands, da Universidade de Wisconsin. Era o início do trabalho de melhoramento genético de aveia no Brasil.
De planta forrageira à planta produtora de grãos de alta qualidade foi um largo caminho percorrido, pacientemente, pelos pesquisadores. O professor da Faculdade de Agronomia e do Programa de Melhoramento Genético de Aveia da UFRGS, Luiz Carlos Federizzi explica que um cultivo de sucesso leva de dez a 12 anos para ser concluído. Os primeiros seis ou sete anos são desenvolvidos integralmente na Universidade. “Depois de atingir a estabilidade genética e fenotípica, chamada de linhagem, o futuro cultivo é comparado com os melhores em experimentos realizados no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo, durante, pelo menos, três anos. Aquelas linhagens que superam os melhores cultivos quanto ao rendimento, qualidade dos grãos e outras características agronômicas de interesse são, então, lançadas comercialmente, registradas e protegidas no MAPA, como um novo cultivo. A partir daí, elas são distribuídas aos produtores de sementes, que fazem sua multiplicação e comercialização.” Hoje, a UFRGS detém a patente de 13 cultivares de aveia branca, que é rica em fibras, vitaminas e minerais, e, por isso, muito utilizada na alimentação humana e animal.
A completa substituição das variedades antigas por variedades modernas, com melhor tipo agronômico, rendimento e qualidade de grãos, tirou o Brasil da condição de importador de grãos de aveia, poupando divisas. “As novas variedades e a disponibilidade de aveia com boa qualidade no mercado nacional possibilitaram o surgimento de um grande número de indústrias de pequeno porte para a transformação e processamento de grãos, assim como para a elaboração de alimentos mais saudáveis à dieta humana”, comemora o professor Federizzi.
Objetivos do programa de melhoramento genético de aveia da UFRGS
• Desenvolver novos cultivos com ampla adaptação aos ambientes do sul do Brasil, incorporando bom tipo agronômico (ciclo e estatura), com alto rendimento de grãos de alta qualidade e resistência durável as principais moléstias.
• Treinar recursos humanos no melhoramento genético de plantas em todos os níveis – graduação, através de iniciação científica, mestrado e doutorado.
• Realizar estudos básicos que permitam facilitar a obtenção dos objetivos, por exemplo: estudos da genética de caracteres importantes como ciclo, estatura, resistência ao alumínio, resistência a moléstias e qualidade de grãos.
• Desenvolver e adaptar novas tecnologias para a cultura da aveia, por exemplo: manejo eficiente do nitrogênio, época e densidade de semeadura e demais técnicas de cultivo, específicos para cada variedade.
• Usar técnicas da biotecnologia para auxiliar na criação de novos cultivos, por exemplo: uso de marcadores moleculares para seleção de caracteres como resistência a moléstias, tolerância ao alumínio tóxico do solo, ciclo, estatura e qualidade dos grãos.
• Identificar fontes de resistência às principais moléstias e estudo da biologia e controle das mesmas.
• Produzir semente genética de alta qualidade e realizar a divulgação dos cultivos gerados no programa.
Você sabia?
- Para ser produzido no mercado, um cultivar de qualquer espécie agrícola tem que estar registrado no Serviço Nacional de Registro de Cultivares (SNRC) e pode também ser protegido no Serviço Nacional de Proteção de Cultivares (SNPC), ambos no Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Porém, para ser registrado e protegido, o cultivar precisa atender alguns requisitos de importância para o setor, tais como ser homogênea, uniforme, estável e diferente de tudo que tem no mercado. Assim, ao inscrever o campo no MAPA, o produtor de sementes precisa ter uma licença e, normalmente, pagar royalties à Instituição obtentora do cultivo, no caso, da UFRGS.
- Desde 2004, a UFRGS registrou e protegeu 13 cultivares no Sistema Nacional de Proteção de Cultivares do Ministério da Agricultura. Destes, 10 continuam sendo cultivados.
Desempenho espetacular
A área cultivada com aveia passou de pouco mais de 30 mil hectares, em 1976, a mais de 300 mil hectares, em 2016, e o rendimento de grãos passou de 940 para 2.840 kg/ha, no mesmo período, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab/2017). Nos últimos anos, os cultivares da UFRGS tiveram um desempenho espetacular, com aumento expressivo da área de produção de sementes licenciadas e do número de licenças, correspondendo a mais de 90% da semente oficial comercializada no Brasil.
O sucesso dos cultivares disponibilizados aos agricultores se deve ao alto rendimento e qualidade dos grãos, à resistência/tolerância às principais fontes de estresses bióticos e abióticos, e à ampla adaptação aos ambientes subtropicais do Brasil. Mas eles também têm boa adaptação em outros países. Atualmente, os cultivares de aveia da UFRGS são plantados, comercialmente, na Argentina, Uruguai, Índia e Estados Unidos.
Por Daiani Cerezer