Notícia

Ampliar fonte

Quarta-feira, 26 de abril de 2017

Os resíduos perigosos estão presentes em diversas atividades do nosso dia a dia

Os resíduos perigosos estão presentes em diversas atividades do nosso dia a dia e, quando descartados incorretamente, são causas de contaminação do solo, de cursos d'água e lençóis freáticos. Mesmo não sabendo exatamente a sua classificação, é importante ter consciência de que a destinação correta de materiais, como baterias, pilhas, remédios vencidos, tintas, pneus e lâmpadas fluorescentes ajuda a preservar recursos naturais vitais à nossa sobrevivência.
Você já parou para pensar onde e como é descartado o lixo proveniente dos laboratórios? Por conta dessa preocupação, a Adverso foi saber qual é o destino dos resíduos químicos perigosos gerados pelo Instituto de Química da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

O Instituto de Química da UFRGS foi pioneiro entre as universidades brasileiras no gerenciamento e tratamento de resíduos químicos. Desde os anos 80, o Instituto recolhe os resíduos, que, antes, eram lançados na pia ou lixo comum e, na melhor das hipóteses, eram armazenados em salas para futuro descarte.
Pode-se considerar resíduo químico toda substância resultante de algum processo físico ou químico, remanescente de atividades de origem industrial, serviços de saúde, agrícola e comercial (Norma Brasileira n° 16725/2014). Os resíduos químicos são sempre considerados perigosos e devem ser submetidos a tratamento específico, dependendo de sua classificação química. De acordo com a legislação ambiental, estes materiais podem ser destinados ao reprocessamento/recuperação, reciclagem coprocessamento, destruição térmica ou aterro sanitário.
No entanto, nem todo resíduo químico é tóxico. A toxicidade é uma das possíveis características de um resíduo químico. “Podemos dizer que o resíduo químico é perigoso quando apresenta uma ou mais características de periculosidade que são toxicidade, inflamabilidade, reatividade e corrosividade. Além disso, o resíduo químico não, necessariamente, precisa ser descartado, há resíduos que podem ser recuperados, reciclados ou reutilizados”, explica Greice Vanin Oliveira, mestre em Ciência dos Materiais pela UFRGS e chefe da Divisão Técnica do Centro de Gestão e Tratamento de Resíduos Químicos (CGTRQ).
Na UFRGS, os resíduos químicos gerados nas diferentes unidades do Instituto de Química (laboratórios de pesquisa, laboratórios de aula, prestadores de serviço, hospitais etc.) são armazenados, recolhidos e triados pelo CGTRQ. O Centro é um órgão auxiliar do Instituto de Química, com contrato de destinação dos diferentes tipos de resíduos químicos. Na primeira etapa, o lixo é armazenado de acordo com a sua classificação e, sempre que necessário, são acionadas as empresas responsáveis pelo recolhimento, transporte externo, tratamento e destinação final. Nesta etapa, os resíduos podem ser tratados, incinerados, coprocessados ou encaminhados diretamente para o aterro Classe I (industrial), específico para resíduos perigosos.
“Antes da criação do CGTRQ, os resíduos químicos da UFRGS eram despejados diretamente nas pias de nossos laboratórios. Como sabemos que uma pequeníssima parte da cidade tinha coleta e tratamento de esgotos, nossos resíduos acabavam indo parar no Guaíba, contribuindo para que o rio se encontre no estado em que está hoje. Com a criação do CGTRQ, teve início a coleta dos resíduos em bombonas e o encaminhamento para sistemas de tratamento adequados. Atualmente, Porto Alegre possui uma rede de coleta e tratamento mais ampla, mas, mesmo assim, não podemos fazer o descarte nesta rede, pois os sistemas de tratamento são biológicos e não podem receber cargas químicas, que inviabilizam o desenvolvimento das bactérias necessárias para o tratamento. Desde 2001, paramos de poluir o Guaíba e o Ipiranga, principalmente”, relata o engenheiro agrônomo, mestre em recursos hídricos e saneamento ambiental e assessor de gestão ambiental do reitor, Darci Barnech Campani.
Atualmente, o gerenciamento dos resíduos inicia no laboratório gerador, que deve segregar o resíduo conforme as classes, embalagens e rotulagem. Enviados ao CGTRQ, eles são registrados, para que possam ser rastreados. Posteriormente, eles são segregados, conforme classificação interna, e dispostos em embalagens ou contêineres até que tenham seu devido tratamento e disposição final. O resíduo que não puder ser reaproveitado ou recuperado no laboratório gerador deve ser devidamente separado, embalado, identificado e, somente então, encaminhado ao CGTRQ. 
A destinação do resíduo depende de suas características físico-químicas e periculosidade. Os solventes orgânicos, por exemplo, são recuperados, podendo ser novamente utilizados pelos laboratórios. Os resíduos que não podem ser recuperados são armazenados, provisoriamente, no CGTRQ e, então, encaminhados para empresas licenciadas, responsáveis pelo tratamento e destinação final.
 “É preciso que a Universidade, pelo seu importante papel na sociedade, dê o exemplo, e que os alunos, na sua formação, sejam estimulados e introduzidos às práticas de gestão ambiental, habilidade essencial de qualquer profissional nos dias atuais”, destaca Greice Oliveira. Para ela, o sucesso do trabalho de gerenciamento dos resíduos depende, principalmente, dada consciência sobre a necessidade de gerar o mínimo possível, pois além dos riscos ambientais, os custos para tratamento e disposição final de resíduos perigosos são altos e oneram a Universidade.
Para a bióloga, especialista em direito ambiental e mestranda em microbiologia, Juliane Borba Minotto, “o gerenciamento inadequado de resíduos perigosos pode ocasionar contaminação de solo e das águas superficiais e subterrâneas. Essa contaminação, em muitos casos, ocasiona a morte de espécies animais e vegetais, o que impacta ecossistemas e a qualidade dos recursos naturais. Esses danos parecem muito distantes da nossa realidade, mas, cada vez mais, ouvimos relatos de desastres ocasionados por poluição de cursos d'água e problemas com lixões a céu aberto.” 
Com a criação do CGTRQ, em 2001, e o início do atendimento a outras unidades, além do Instituto de Química, a partir de 2004, cresceu, expressivamente, a quantidade de resíduos recolhidos para tratamento adequado.

Havia muitas unidades com passivos ambientais, que foram completamente equacionados entre 2004 e 2009. As unidades passaram a receber atendimento regular do CGTRQ, que, atualmente, recebe resíduos de mais de 220 laboratórios e de todos os campi da UFRGS. O Instituto de Química produz em torno de 20% do toral, equivalente a 250 quilos de resíduos/dia, na média.

Classificação dos resíduos


A Norma Brasileira n° 10.004/2004 da Associação Brasileira de Normas Técnicas e normas complementares são utilizadas para classificar os resíduos em perigosos ou não perigosos. Após esta classificação, se o resíduo for perigoso, é necessário conhecer as propriedades de periculosidade para se estabelecer o tratamento mais adequado. O CGTRQ adota uma classificação própria, mais específica, mas em conformidade com a norma. Os geradores recebem treinamento sobre as classes, as formas de segregação, o acondicionamento, a identificação e o tratamento dos resíduos, para que sejam enviados ao CGTRQ. 
Greice destaca que alguns resíduos descartados pelos laboratórios possuem elevado potencial de recuperação, como é o caso dos solventes e alguns reagentes. “O CGTRQ possui um equipamento de purificação por destilação fracionada, do tipo 'spinning band', com capacidade para purificar cerca de 10 litros de resíduo por dia. Já os reagentes, na sua maioria lacrados, mas com prazo de validade expirado (e por isso são descartados pelos laboratórios), são repassados a outros laboratórios interessados, para uso em aulas práticas, demonstrações ou limpeza. Com isso, deixamos de descartar mais de 2,4 toneladas de resíduos somente em 2016.”

Perigo: saiba identificar

As pessoas que utilizam qualquer produto químico devem ter domínio sobre suas propriedades e a correta forma de manuseio, armazenamento e descarte. Estas informações estão contidas na Ficha de Informações de Segurança de Produtos Químicos (FISPQ), que deve ser disponibilizada pelo fabricante. Normalmente, é possível encontrá-las na Internet. Informações sobre a periculosidade de um produto devem estar escritas e identificadas, conforme simbologia universal, no próprio rótulo.
Para ter acesso a mais informações sobre a composição do produto e descobrir se ele é perigoso, além de aprender a descartar corretamente esses resíduos, Darci Barnech Campani recomenda procurar sites especializados, mas adverte: “Temos que saber escolhê-los. Primeiro, devemos procurar no site do fabricante informação sobre como descartar o produto. Para saber se é tóxico ou não, deve-se observar se a embalagem possui o símbolo de toxicidade, que, normalmente, é uma caveira.” Em nossas casas, explica Campani, “o que temos de mais tóxico são lâmpadas fluorescentes, pilhas e baterias, medicamentos vencidos e embalagens de inseticidas, que os estabelecimentos comerciais já são obrigados a receber de volta, isto é, algo que temos que exigir de quem nos vende, para que o produto tenha uma correta destinação”. 

 

Por Daiani Cerezer