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Segunda-feira, 20 de maio de 2019

Julio Xandro afirma que todos os campi deverão sofrer com o corte de verbas.

Em entrevista ao portal Adverso, o reitor do IFRS, Julio Xandro Heck comenta o corte de orçamento anunciado pelo governo Bolsonaro e como ele afeta a instituição. Confira a entrevista.

Portal Adverso - De que forma os cortes anunciados pelo governo vão afetar a estrutura do IFRS?

Reitor Julio Xandro - É importante entender que o orçamento geral do IFRS para 2019 já não era adequado às nossas necessidades, por conta da Emenda constitucional 95, que, desde 2016, limitava o aumento dos gastos com educação. O aumento que tivemos em 2018 não corrigiu os percentuais de aumento da maioria dos nossos contratos, e isso temos que deixar claro, para mostrar que já teríamos problemas à luz do orçamento aprovado na LOA.

Quando a LOA foi aprovada, mesmo que o valor não fosse suficiente, nós nos planejamos para terminar o ano de 2019, minimamente, com aquele orçamento, mas fomos pegos de surpresa, há 2 semanas, com o anúncio dos cortes. O orçamento geral do IFRS foi bloqueado ou cortado em 30%. Eu falo do orçamento geral, mas se pegarmos o orçamento de custeio, que garante o funcionamento básico da instituição, o corte chega a quase 40%. Isso porque o orçamento da assistência estudantil não foi mexido e, para preservá-lo, o governo decidiu tirar de outras fontes, motivo pelo qual o corte no IFRS é de quase 40%. 

Na prática, isso significa que todos os contratos em execução na nossa instituição deverão sofrer prejuízos. São contratos que temos que executar ao longo do ano, como vigilância, limpeza, serviços de manutenção, energia elétrica, internet, água. Nesses contratos, nós já teremos prejuízos, porque não temos dinheiro para honrá-los até o fim do ano. Mas a instituição também tem outros projetos, que são projetos de pesquisa, extensão.  O IFRS coloca uma boa parte do seu orçamento no desenvolvimento de soluções para problemas da sociedade, em bolsas e alunos que fazem pesquisa e extensão, e nas viagens técnicas, que também sofrerão prejuízos. Então, algumas atividades não poderão se manter.

Portal Adverso - Até que momento o IFRS vai suportar sem estes recursos? 

Reitor Julio Xandro -   Ainda não temos essa resposta. O IFRS tem 17 orçamentos, pois cada campi tem o seu. Alguns fecharão um pouco antes, outros um pouco depois. Se fizer uma comparação entre o orçamento que tínhamos em 2018 e o que temos agora, podemos dizer que fecharíamos em setembro, talvez outubro.  

Portal Adverso – Então, há uma previsão de quais campi serão os primeiros afetados?

Reitor Julio Xandro - De uma forma geral, os campi mais novos, que estão em fase de implantação, sofrerão mais, pois eles têm demandas mais urgentes, como obras, mobiliários, insumos para laboratórios etc. Em média, eu diria que os campi menores, como Alvorada, Vacaria, Rolante e Viamão, serão os que fechariam antes, mas depende de como cada diretor vai resolver a sua situação. 

Outro caso preocupante é o campus Porto Alegre, que, por ser um campus grande, tem um custo muito alto com vigilância, limpeza. Então, posso dizer que seria um dos mais prejudicados. Depende muito da realidade de cada campi, mas uma coisa é certa: o bloqueio vai afetar todos, sem exceção. Alguns um pouco antes, outros um pouco depois, mas todos sofrerão. 

Portal Adverso - Vai chegar um momento em que a reitoria vai ter que eleger prioridades?

Reitor Julio Xandro- No momento, entendemos que não vamos tomar essa decisão, pois estamos empenhados em reverter o bloqueio. A nossa estratégia de defesa é essa. Por isso, não vamos decidir ainda o que será cortado, estamos concentrando todos os movimentos, com outros reitores de IFEs e até de universidades, para reverter o bloqueio. O que fizemos foi cancelar uma série de eventos institucionais que estavam programados para ocorrer nos próximos 60 dias. Não se trata de escolher a prioridades do que cortar, mas sim de deixar de fazer algumas coisas que precisariam de recursos, como atividades de pesquisadores, de extensionistas, jogos dos estudantes, capacitação de servidores, entre outras. 

Nós delegamos aos diretores de cada campi um diagnostico de quais as necessidades mais urgentes e, com base nisso, nós tomaremos decisões nos próximos dias. Nossa estratégia, dos reitores do Brasil inteiro, é fazer a instituição funcionar normalmente até o momento em que ela não puder mais andar. 

Portal Adverso - Durante o Governo Temer, também ocorreu um bloqueio de recursos para a educação. Como a situação foi resolvida? 

Reitor Julio Xandro - No governo Temer, houve um limite dos gastos, mas não corte. É diferente. Agora o orçamento foi retirado do sistema. No governo anterior, conseguimos, inclusive, fazer um planejamento, algumas licitações. Do jeito que está hoje, dependemos de uma decisão politica. 

Portal Adverso -  Na semana passada ocorreu uma grande manifestação nacional contra os cortes. Como está sendo a participação dos estudantes dos Institutos Federais neste movimento? 

Reitor Julio Xandro - O que a gente tem feito é ser o mais transparente possível. Temos ocupado os espaços de mídia e sendo absolutamente francos, para mostrar a realidade aos estudantes. Então, eles sabem exatamente o que está acontecendo e estão reagindo. Não estão aceitando passivamente, não estão conformados, e já demostraram que estão juntos nessa briga. Em Porto Alegre, o quarteirão foi cercado pelos manifestantes em um abraço solidário ao Instituto Federal. Este exemplo de mobilização é um ponto a nosso favor: os estudantes pressionam o governo e, assim, a sociedade também se mobiliza. Vejo isso com otimismo e espero que o governo seja sensível aos anseios da população. 

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