Conversas ADUFRGS debateu a Política e a Comunicação na atualidade.
A comunicação passa por um momento histórico, em que as mídias sociais estimulam o debate público e provocam grandes disputas políticas. Essa é uma das conclusões do Conversas ADUFRGS desta quarta-feira, 5 de agosto, que debateu “Política, Comunicação e Pandemia”.
Fizeram parte do evento virtual, transmitido pelo Canal da ADUFRGS-Sindical no Youtube, a professora Maria Helena Weber (Fabico/UFRGS) e os professores Luiz Artur Ferraretto (Fabico/UFRGS) e Cleber Matos (UFPB). O debate foi mediado pelo presidente da ADUFRGS, Lúcio Vieira, que destacou, na aberura, a relevância do tema “em tempos de pandemia e afastamento social, que vem tencionando muito a sociedade”.
“Essa pandemia está expondo as inseguranças e a irresponsabilidade de atores e instituições políticas e governamentais sobre a saúde pública e a nossa vida”, principiou Maria Helena Weber, professora da UFRGS, pesquisadora do CNPq e autora de “Comunicação e Espetáculos da Política, entre outras obras.
Segundo ela, o Brasil vive um “espaço de disputa entre mecanismos e procedimentos, entre a sobrevivência dos cidadãos e da própria economia e entre a compreensão da Ciência e a compreensão do Capital”. Soma-se a esse fato, a falta de uma ação coordenada para o enfrentamento da pandemia e de unidade em termos de comunicação governamental, o que leva o País, inclusive, a ter uma péssima imagem internacional.
Para Maria Helena, a comunicação tem papel fundamental no contexto da pandemia, gerando um debate público desde fevereiro deste ano. “As mídias sociais hoje são grande palco deste debate público, que mistura solidariedade, debates políticos e filosóficos em dezenas de lives e gravações diárias”, afirma. Entretanto, conforme a professora, esse debate carece de uma coordenação nacional. “Nunca tantas pessoas puderam ter tanto acesso e opinar. É incontrolável a quantidade dessas informações e opiniões”, completou.
Portanto, conforme Maria Helena, passamos por um momento histórico do ponto de vista comunicacional porque “há uma reinvenção de formatos que reúnem e difundem a opinião e a produção artística, cultural e política”. O interessante neste fato, para a professora, é que é possível saber sobre muitas coisas e opiniar sobre elas “sem muita racionalidade”.
O debate público atinge todas as instituições, mas, segundo a pesquisadora, está incompleto, pois o Estado não participa dele e o sistema de comunicação estatal está mais vinculado à propaganda governamental do que à comunicação pública em resposta aos acontecimentos da pandemia. “Está se desenvolvendo uma estratégia de comunicação ‘circense’ para nos distrair das mortes que nos rodeiam”, frisou.
Fatos científicos e fake news
Professor e pesquisador de mídias digitais na Universidade Federal da Paraíba, Cleber Morais fez uma apresentação sobre ferramentas que realizam representações gráficas do fluxo das redes sociais, como Google Trends e NetLogo. Também destacou como que os mecanismos de busca do Google podem pautar a comunicação.
Um dos grandes desafios hoje, aposta Morais, é falar de Ciência nas redes socias. “Noticiar fatos científicos se torna crítico. Precisamos levá-los para as pessoas para evitar erros grosseiros de interpretação”, afirmou, lembrando que a nossa estrutura de comunicação hoje é muito mais complexa e exige a criação de novas estratégias.
O professor da UFPB ressaltou, principalmente, a dificuldade de lidar com as fake news, mas que é preciso criar ferramentas para isso, como a auditoria de texto e informação feita pelos jornalistas investigativos, o reforço do noticiamento da Ciência e a criação de instâncias automáticas anti-fake através de dados compartilhados e verificação de notícias falsas. “A Comunicação tem que interagir e dialogar com o pessoal da Computação para criar essas novas ferramentas”, provocou.
Infodemia
Luiz Artur Ferraretto falou a partir da sua experiência no ensino em Rádio. Segundo ele, hoje a mídia não é “tão totalizante” como no passado, ou seja, ela é formada por vários meios e formas.
Segundo ele, a comunicação sobre o enfrentamento da pandemia no Brasil não ficou centralizada nos órgãos públicos. Ela foi transferida para a mídia: grande meios de comunicação, veículos de pequeno porte e redes sociais. Assim, se configurou naquilo que a Organização Mundial da Saúde chama de “Infodemia”, ou seja, a epidemia de informações.
“É muito difícil neste momento chegar a conclusões que envolvem irresponsabilidade ou ética”, continuou o professor, citando os desencontros de informação causados pelas atitudes contraditórias dos governantes. Como exemplos, Ferraretto destacou a campanha presidencial a favor da cloroquina, independentemente das manifestações da comunidade científica sobre a ineficácia do remédio contra o coronavírus, a mudança repentina nas cores das bandeiras que identificam os municípios em estado mais crítico no Rio Grande do Sul, e a retomada do Campeonato Gaúcho de Futebol.
Para Ferraretto, tanta confusão e desinformação sobre a COVID-19 faz com que a credibilidade das informações seja questionada e com que as pessoas acabem se acostumando à situação. “O senso jornalístico deveria quebrar o senso comum, mas vai muito atrás do burburinho das redes sociais. E tem o senso científico, que deve ser mais valorizado”, concluiu.
Participação da audiência
O Conversas ADUFRGS acontece todas as quartas-feiras e apresenta temas relevantes no contexto atual, com a participação de professores, pesquisadores e especialistas. O público também participa pelo Chat do YouTube durante a transmissão. Veja alguns comentários:
Parabéns profa. Maria Helena! Uma fala muito esclarecedora! Agradecida por lhe ouvir!
Maria Da Graca Gomes Paiva
Obrigada profº Ferraretto, aprendemos com sua fala, esclarecedora e generosa.
Graciela Quijano
Feliz em ouvir os colegas sobre este assunto.
Rubens Weyne
Na minha opinião, precisamos intensificar projetos de Leitura Crítica da Mídia nas universidades de Comunicação!
Katia Marko
Assista ao debate: