Infectologista da UFRGS e bióloga molecular da UFCSPA deram o recado: melhor pecar pelo excesso do que pela falta de cuidados.
Nesta quarta-feira, 18 de março, a ADUFRGS-Sindical promoveu a aula pública “Coronavírus – O que a Universidade tem a dizer”, em parceria com PROIFES-Federação, CPERS, Sinpro, CNTE, UNE, UEE, CUT e CTB. Para evitar aglomeração de pessoas, que é uma das principais recomendações para o controle da pandemia, o evento foi transmitido ao vivo pela internet.
O presidente da ADUFRGS, Lúcio Vieira, que mediou a aula, lembrou que a atividade faz parte do Dia Nacional de Luta em Defesa da Democracia, da Educação e dos Serviços Públicos. “A situação é grave e o coronavírus ganha mais gravidade em um país que não investe em educação e pesquisa”, destacou.
A aula foi ministrada pela bióloga molecular e professora da UFCSPA Ana Gorini da Veiga e pelo infectologista e professor da UFRGS Luciano Goldani. Após as palestras, os especialistas responderam perguntas dos internautas. As dúvidas, em geral, foram sobre grupos de risco e como lidar com as pessoas que apresentam sintomas relacionados ao coronavírus.
“Não é a primeira e nem será a última epidemia”
Ana Gorini destacou a semelhança dessa pandemia com a da Gripe A (2009-2010), causada pelo vírus Influenza e que tem grande impacto até hoje. “A Covid-19 não é a primeira e nem será a última pandemia”, ressaltou. Segundo a bióloga, a vacina da H1N1, a gripe A, que deverá ter sua campanha antecipada no Brasil, não protege contra o coronavírus, mas pode promover uma resposta imune geral e reduzir a hospitalização e ocupação de leitos.
Ela falou, ainda, sobre os impactos econômicos da pandemia e se colocou contra as fake news e teorias conspiratórias, que surgiram na internet após a descoberta do vírus na China. “Quanto mais a gente degradar o meio-ambiente, quanto mais invadirmos o espaço de outras espécies, mais contato teremos com vírus, que chamamos de zoonoses, e que podem não ter efeito sobre outros animais. Não são as questões político-econômicas que levam alguém a desenvolver o coronavírus”, afirmou.
“Precisamos testar para controlar”
O infectologista Luciano Goldani apresentou dados de evolução do vírus no Brasil, que até aquele momento tinha mais de 290 casos confirmados, sendo 16% de pessoas com idade acima de 60 anos. Ele explicou que a transmissão comunitária, confirmada em São Paulo e no Rio de Janeiro, diz respeito aos casos de pessoas contaminadas sem ter tido contato direto com outras que retornaram de viagens ao exterior.
Para Goldani, o problema no Brasil é a falta de testes para as pessoas que apresentam sintomas de infecção respiratória e que nunca viajaram. Pelos fluxos atuais, só serão testados casos suspeitos. “Existem algumas organizações sistemáticas para estes casos. Uma delas é a amostragem, que poderia ser feita em postos de saúde para monitorar a transmissão comunitária”, sugere. “Quando não temos testes, nosso controle fica restrito.”
Os palestrantes destacaram, ainda, os cuidados para achatar a curva de evolução dos casos da doença, como o fechamento de escolas e estabelecimentos comerciais, a reclusão e a lavagem de mãos várias vezes ao dia. “Temos que pecar pelo excesso e não pela falta de cuidados”, concluiu o infectologista.
O tesoureiro e a diretora de Comunicação da ADUFRGS, Eduardo Rolim de Oliveira e Sônia Mara Ogiba, participaram da atividade na sede do Sindicato. O presidente e o secretário de Comunicação da CUT-RS, Amarildo Cenci e Ademir Wiederkehr, respectivamente; a diretora de Educação, Formação e Cultura do SINPRO, Margot Andras e a vice-presidente do CPERS, Solange Carvalho, também estavam presentes.
Até o final da tarde de hoje, a aula pública já havia sido visualizada por mais de 10 mil pessoas no YouTube e no Facebook. Assista à aula completa no YouTube da ADUFRGS aqui.