Notícia

Ampliar fonte

Terça-feira, 21 de junho de 2016

Inédita na Faculdade de Agronomia, oficina leva à comunidade o know how de um doutorando, através de parceria com docentes da Universidade.

Resultado de uma parceria inédita entre docentes do Departamento de Horticultura e Silvicultura da Faculdade de Agronomia com um doutorando da área de Fruticultura, o curso de Mini-hortos em Pequenos Espaços oferecido recentemente pela Ufrgs já tem demanda para uma segunda edição. Aberta à comunidade, a primeira oficina foi um sucesso. Com foco em plantas frutíferas e destinada a leigos, a imersão no assunto ocorreu de forma intensiva (oito horas) no último dia 2 de abril, contando com 53 participantes dos mais variados perfis: desde aposentados e donas de casa até intercambistas e alunos da própria Faculdade.

Na ocasião, foram repassadas informações teóricas sobre luminosidade, substratos e irrigação, além uma aula prática de como montar vasos a partir de reciclagem. De acordo com a previsão do chefe do Departamento de Horticultura e Silvicultura da Faculdade, professor Paulo Vitor Dutra de Souza, apesar da demanda, a segunda edição do curso deve ocorrer apenas em 2017. O docente é orientador do doutorando do Programa de Pós-graduação em Fitotecnia, Julio Cesar Giuliani, que, desde 2010, ministra cursos de cultivo de hortas e canteiros de plantas medicinais ou ornamentais em pequenos espaços em floriculturas da Capital e Região Metropolitana do Estado. 

Procurado por Giuliani para promover o curso na Universidade, Souza não somente aprovou a ideia como também participou da empreitada, e convidou a colega de Departamento, professora Tatiana Duarte (especialista em hortaliças) para colaborar com palestras. Segundo Giuliani, esta foi uma das raras vezes em que um aluno protagonizou uma oficina na Ufrgs. “É bem diferente de plantar no solo”, justifica Souza, que foi um dos palestrantes da parte teórica do curso, direcionado à criação de pomar de frutíferas em vasos. 

“No caso de hortas verticais, é muito importante usar o substrato, que leva restos de materiais que passam por processo de compostagem, como cascas de pino, acácia e arroz carbonizado.” O professor destaca que jamais se deve usar terra em mini-hortos, porque a água não penetra e a planta fica sem água e oxigênio, e acaba não sobrevivendo. “Além disso, retirar a terra direto do solo seria degradar o meio ambiente”, adverte. O docente destaca que para não haver frustrações é preciso alguma técnica e dedicação no cultivo em pequenos espaços. “Nem sempre a escolha da espécie é adequada, e é muito comum que leigos comentam erros na hora de irrigar ou de escolher o substrato a ser utilizado.” 

Antes de decidir quais as espécies se pretende ter em apartamento, por exemplo, é importante observar a incidência de sol no local, conferir se o ambiente é arejado, mas sem vento excessivo, e atentar para a forma de irrigar, podar e adubar. “O cultivo de frutíferas em vasos sempre foi uma dúvida minha, por se tratar de espécies arbóreas”, comenta a estudante do 9ª semestre de Agronomia na Ufrgs, Débora Elisabeth Barbosa Medeiros. “O manejo do cultivo de hortaliças e frutíferas em vaso não é abordado na Faculdade, e sempre me interessei em aprender como lidar com o crescimento das raízes.” No curso, Débora pode aprender, de forma teórica e prática, que isso se resolve com a poda das raízes, no momento da troca de vaso ou de substrato.

A poda de frutífera em vaso é muito importante, não somente a raiz, mas também a poda aérea, explica Giuliani. “O manejando com poda serve para manter a planta mais baixa, e para fortificar e dar fruto.” Dependendo da espécie da frutífera, a frequência da poda é distinta, adverte o especialista. Para limpeza das plantas, a poda pode ser feita em qualquer época do ano. Para frutificar, o período mais indicado é no inverno e, para manter a planta baixa, o recomendado é podar durante o verão. Giuliani destaca que não é todo tipo de planta frutífera que pode ser cultivada em vaso. “As mais fáceis são os citrus (laranja, bergamota e limão), laranjinha da Índia, jabuticabeira, pitangueira, goiabeira, mirtilo e pessegueiro, entre outras.”

Hortas verticais são tendência em residências das grandes cidades

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 80% da população do Brasil tem déficit de consumo de frutas e hortaliças. A média são apenas 132 gramas por pessoa/dia, enquanto o consumo recomendado é de 400 g/dia. “Neste sentido, ter uma horta, mesmo em pequenos espaços, pode ser importante para o estímulo e a educação alimentar da família”, considera o engenheiro agrônomo Jorge Luiz Gomes. Assistente Técnico Estadual em Olericultura na Emater-RS, o especialista afirma que hoje esta é uma tendência nas grandes cidades.

O doutorando do Programa de Pós-graduação em Fitotecnia, Julio Cesar Giuliani, diz que em pequenos espaços podem ser utilizados quaisquer tipos de vasos para frutíferas. “Mas é fundamental que haja furos de drenagem e uma camada de brita, pedra ou cascalho no fundo do vaso”. Ele explica que sem esta camada preventiva o substrato acaba entupindo os buracos do vaso, o que impede a drenagem da água. “Neste caso a raiz apodrece e a planta morre.” 

Já o técnico da Emater observa que, no caso de hortaliças, o recomendado é que plantas de raízes profundas (como a cenoura, o nabo ou os temperos de maior porte, como o tomate, o alecrim e o manjericão), sejam plantadas em recipientes com profundidade de, pelo menos, 30 cm. Os vasos, por sua vez, podem ser adequados ao ambiente nos quais serão colocados, permitindo uma decoração personalizada ou possibilitando a reciclagem de materiais disponíveis, como garrafas PET e pneus. “O fundamental é que o material seja inerte e permita uma boa drenagem, sabendo-se que, quanto mais alto for o vaso e menor a sua base, menor será a retenção de água, exigindo irrigação mais frequente.”

Escolher substrato de acordo com o vaso é outro cuidado importante, segundo o chefe do Departamento de Horticultura e Silvicultura da Faculdade de Agronomia da Ufrgs, professor Paulo Vitor Dutra de Souza. “É preciso atentar para a quantidade de água que será depositada na hora da irrigação, que não pode ser em excesso, nem faltar.” Gomes recomenda, em geral, pequenas quantidades de água no outono e no inverno, em um intervalo de três a quatro dias, e doses diárias no verão. Fato é que plantar alface, rúcula, morango e jabuticaba – entre outras frutas, verduras e hortaliças – em apartamentos ou pequenas áreas exige técnicas que a maioria das pessoas desconhece.

Apaixonada por hortas, saladas e folhagens em vasos, “e tudo que envolva agricultura doméstica”, a aposentada Helena Hauschild conta que já havia feito vários cursos oferecidos pela Faculdade de Agronomia. Mas ao participar da oficina de Mini-hortos em Pequenos Espaços se surpreendeu com a informação de que não se usa terra em recipientes. “Eu não sabia o que era o substrato, e isso vai fazer toda a diferença nas minhas empreitadas daqui para frente”, declara.

“A ideia do curso surgiu não somente para ensinar quais tipos de temperos, hortaliças e frutíferas podem ser plantados em vasos, e os cuidados com a irrigação e o uso do substrato, mas também como evitar pragas e doenças”, ressalta Giuliani. Pulgões e cochonilhas são dois insetos que sugam a seiva das plantas, por exemplo. De acordo com o doutorando, um dos controles para estas pragas seria a aplicação de óleo mineral. “Mas no caso de plantas de ciclo curto, como temperos e hortaliças, se o ataque for muito significativo, o mais adequado é comprar outra muda”, aconselha.
 
Outra dica é limpar as plantas, “escovando-as” com esponjas ou mesmo com as próprias mãos, ou jogando jatos de água, ensina Giuliani, que além de ministrar cursos de jardinagens, propagação e poda de plantas, também leciona sobre paisagismo e plantas medicinais no curso de Tecnologia em Horticultura do Instituto Federal (IFRS) de Bento Gonçalves.

Vasos podem ser feitos a partir da reciclagem de materiais

A aposentada Helena Hauschild bem que tentou, mas nunca tinha conseguido plantar nada em bombonas de água, que podem virar vasos. “Sempre achei interessante, até para dar de presente,mas não sabia como acomodar as mudas, desconhecia a técnica de fazer buracos para ajudar na irrigação.” 

O professor Paulo Vitor Dutra de Souza destaca que ,além dos garrafões PET de água (de 5 litros e 20 litros), também lustres antigos, pneus e canos de pvc podem virar vasos para hortas verticais. “O cuidado principal na construção do vaso é fazer furos para manter uma boa drenagem. Depois, se coloca brita de tamanho médio, para que o substrato que vai por cima não se perca.” Outra dica importante é cuidar para não comprar muda com a raiz morta (escura). “O ideal é que a raiz esteja bem branca, aí significa que está sadia.” Com uma bombona de água é possível criar um espiral de ervas, onde se cultiva temperos, como orégano, manjerona, salsinha e hortelã. “Basta cortar em quatro pedaços, e ir prendendo as tiras com distâncias diferentes, para dar espaço para as mudas crescerem”, explica Souza.

O docente destaca que a Faculdade de Agronomia também oferece curso de Hortas Domésticas para Pequenos Espaços (em jardins) e curso de Cultivo de Plantas Medicinais. De 13 a 15 de julho, das 8h às 17h30min, ocorre o curso de Fruticultura em Pomar Doméstico, que ensina como escolher a melhor muda e área adequada, adubação e poda, principais pragas e doenças, época de colheita das frutas e espécies que podem ser plantadas. “Maçã precisa de frio, mamão não tolera geada. São informações importantes para não haver frustração”, exemplifica.  

O assistente técnico da Emater-RS, Jorge Luiz Gomes, lembra que as hortaliças são alimentos essenciais e importante fonte energética de vitaminas, de minerais, assim como de fibras, antioxidantes e elementos funcionais necessários para a manutenção da saúde. “Em espaços exíguos e bem iluminados, pode ser dada prioridade às plantas de porte pequeno e ciclo curto, tais como a rúcula e o rabanete, ou às de corte como o radiche, a salsa e a cebolinha”, recomenda. Para o plantio, pode ser feita a semeadura no local definitivo ou em sementeira, para transplantio. “Importante é considerar que a semeadura aumenta em aproximadamente um mês o ciclo da hortaliça, até o início da colheita, fato que, muitas vezes, torna mais prática a compra de mudas prontas para o plantio”, destaca.


Foto: Júlio Giuliani
Texto: Adriana Lampert
ADverso/Edição 220 - Maio/Junho - 2016