Você já pensou em ser um amigo virtual do Arroio Dilúvio ou do Guaíba? Ou segui-los no Twitter? Pois, agora, isso é possível.
Você já pensou em ser um amigo virtual do Arroio Dilúvio ou do Guaíba? Ou segui-los no Twitter? Pois, agora, isso é possível. O arroio Dilúvio, por exemplo, tem perfis no facebook e no twitter, habilitados temporariamente para teste. As redes sociais são a interface do projeto de pesquisa CloudIA (Cloud Data Integration and Analysis) com a comunidade. Sob a coordenação do professor André Peres, do IFRS Campus Porto Alegre, os pesquisadores desenvolvem equipamentos para monitorar a qualidade da água e do ar em determinados ambientes. Programa de extensão no IFRS - Campus Porto Alegre, o projeto é realizado no PoaLab, laboratório de fabricação digital cadastrado na rede mundial de FabLabs.
FabLab é o componente de divulgação educacional do Centro para Bits e Átomos do MIT, uma extensão de sua pesquisa em fabricação digital e computação. Um FabLab é uma plataforma técnica de prototipação para inovação e invenção, provendo estímulo para empreendedores locais. É, também, uma plataforma para aprender e inovar: um lugar para brincar, criar, aprender, orientar, inventar. Para ser um FabLab é necessário se conectar à comunidade global de aprendizes, educadores, tecnólogos, pesquisadores, makers e inovadores, uma rede de compartilhamento de conhecimento que alcança 30 países e 24 fusos horários. Todos os FabLabs compartilham as mesmas ferramentas e processos, com o objetivo de construir uma rede mundial de laboratórios para pesquisa e invenção.
O desafio do projeto é reunir dados, em todo o planeta, abrangendo uma variedade de campos científicos. Segundo o diretor de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação do IFRS - Campus Porto Alegre, Evandro Manara Miletto, “o desenvolvimento de sensores de monitoramento da qualidade da água e do ar faz parte de um projeto multidisciplinar, que envolve as áreas do meio ambiente e da tecnologia da informação”. O equipamento tem a função de capturar indicadores de qualidade ambiental e transmiti-los pela internet. O objetivo é que pesquisadores, professores e a própria comunidade possam se beneficiar dos dados apurados em tempo real.
A ideia é informar as condições do ambiente e permitir que as pessoas tenham acesso irrestrito aos dados coletados em locais específicos, como um rio, um lago ou um açude. Alimentados por energia solar, os sensores submersos poderão extrair parâmetros, como PH, oxigênio dissolvido, condutividade e temperatura, e enviá-los via GPRS (rede do celular) para a internet. Os posts serão feitos, automaticamente, nas redes sociais, em uma área de pesquisa conhecida como Rede Social das Coisas. Assim, se um rio ou um lago fizer parte do twitter ou do facebook, poderemos “segui-los” ou sermos “amigos” deles.
“Como a Tecnologia de Informação está envolvida na pesquisa, conseguimos tratar esses dados e distribuí-los para os públicos específicos, através dos parâmetros fornecidos pelos especialistas ambientais”. Em outras palavras, “os dados brutos serão usados por especialistas ou adaptados para uso acadêmico, como ferramentas de aprendizagem”, explica Miletto.
Para a comunidade, os indicadores podem ser divulgados na forma de “qualidade boa” ou “qualidade ruim”. O próprio rio poderá fazer postagens automáticas, no facebook e no twitter, manifestando o seu estado naquele momento, com relação à temperatura, à acidez, à incidência de sol e à poluição. “Assim, nós saberemos se a qualidade da água está boa ou ruim, se amanheceu ácida ou alcalina”, exemplifica.
No PoaLab, os pesquisadores conseguiram transformar os BITS em átomos, ou seja, toda a ideia concebida é prototipada no computador e materializada em impressão 3D ou por uma cortadora a laser. Nesse ambiente, explica Miletto, “conseguimos imprimir as peças dos sensores e outros dispositivos necessários para a pesquisa, que podem, também, se transformar em objetos educacionais”. O Grêmio Náutico União (sede Ilha do Pavão) e o Cégep de Sherbrooke (QC) já são parceiros conveniados, mas a proposta é tão inovadora que até o Departamento de Água e Esgoto (DMAE) da Prefeitura de Porto Alegre já manifestou interesse em fazer parte do projeto.
Duplamente negativo
“Infelizmente, os cortes orçamentários prejudicam fortemente o desenvolvimento dos projetos”, lamenta o diretor de pesquisa do IFRS – Campus Porto Alegre, Evandro Manara Miletto. Sobre os efeitos do contingenciamento, ele é enfático: “Pesquisa e ciência não se fazem sem dinheiro. Quando recebemos a informação de um corte orçamentário, isso impacta decisivamente na qualidade dos projetos. O efeito é duplamente negativo. De um lado, porque os projetos precisam ser alterados, e muitas vezes improvisados, afetando os resultados esperados e, por outro lado, a experiência de formação, para professores e alunos, que são figuras obrigatórias num projeto de pesquisa, é frustrante, porque o aluno deixa de aproveitar, de conhecer, de acompanhar a trajetória adequada da pesquisa.” O docente ratifica o entendimento de que “os recursos aplicados na pesquisa não são um gasto e sim investimento” e a necessidade de “fazer com que os estudantes e a comunidade sejam nossos aliados nessa luta”.
Falando das pesquisas realizadas na rede dos Institutos Federais, Miletto destaca, em todas, “o caráter aplicado na comunidade”. A poluição ambiental, por exemplo, “é um problema contemporâneo, que vivenciamos em todas as grandes cidades. A criação de consciência ambiental pode ser potencializada pelas mídias sociais. Por meio dos dispositivos que estamos desenvolvendo, podemos seguir o rio, o lago, o meio ambiente, acompanhar como eles estão sendo tratados. E, eventualmente, uma comunidade específica, de uma região que está sendo afetada, poderá se mobilizar e exigir que as autoridades competentes tomem providência para solucionar o problema”.
Por Daiani Cerezer