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Quarta-feira, 21 de agosto de 2019

'É uma tragédia', diz o professor João Marques, coordenador do estudo na Universidade Federal de Minas Gerais.

Por Thais Pimentel, G1 Minas

"Construir leva tempo. Destruir é muito fácil", disse o professor João Trindade Marques, do Departamento de Bioquímica e Imunologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), sobre o possível corte de bolsas do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) em setembro. Dos 14 estudantes do laboratório, oito dependem do benefício.

O CNPq anunciou no dia 15 de agosto que suspendeu a assinatura de novos contratos de bolsas de estudo e pesquisa. O Ministério da Ciência e Tecnologia também admitiu que há risco de que as bolsas fiquem sem pagamento em setembro.

O professor João Marques coordena uma pesquisa que estuda a transmissão do vírus da dengue. Ela identificou o gene Loqs2, presente apenas em mosquitos do gênero Aedes. A descoberta pode ajudar a criar mosquitos geneticamente modificados, incapazes de transmitir a doença.
"São dez anos de pesquisa. E as possibilidades são imensas. Chegamos a um estágio importante, e tudo isso pode acabar no mês que vem. É uma tragédia", relatou o professor. As bolsas dos oito pesquisadores que fazem parte da equipe são de dedicação exclusiva.

“São assalariados. Dedicam 40 horas semanais no laboratório. E não recebem férias ou qualquer outro adicional. É um trabalho. Um trabalho fundamental. Serão oito desempregados”, disse Marques.

A pesquisa também é financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig), que suspendeu parte dos recursos em fevereiro por causa da crise financeira do estado. Houve suspensão de R$ 2,5 milhões destinados a bolsas de iniciação científica e de cerca de R$ 13 milhões para projetos liderados por professores em toda a UFMG.
"Ainda não recebemos a verba do mês passado. A situação é crítica", afirmou o professor. A Fapemig informou que os recursos de julho devem ser repassado em breve.

A pesquisa também recebe verbas da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), da comunidade europeia e da Agência Francesa de Pesquisa (ANR). Porém, segundo Marques, elas não são capazes de sustentar o trabalho.
"Não são suficientes para manter o laboratório e não têm bolsas vinculadas", destacou.

Suspensão

Sem resposta do governo federal sobre a garantia de abertura de crédito suplementar para cobrir o déficit do orçamento de 2019, o CNPq anunciou no dia 15 de agosto que suspendeu a assinatura de novos contratos de bolsas de estudo e pesquisa.
A recomposição, segundo informou o órgão ao G1, se refere ao crédito suplementar de R$ 330 milhões. Quem abre o crédito é o Ministério da Economia, mas, de acordo com o conselho, até a tarde desta quinta a pasta não havia dado garantias de que liberaria o reforço orçamentário.

Ao G1, o Ministério da Economia afirmou que o pedido de crédito suplementar para o CNPq, feito em 1º de março e referendado em votação no Congresso Nacional em 11 de junho, ainda "permanece em análise na JEO [a Junta de Execução Orçamentária], sem prazo para decidir sobre o pleito."
Esse recurso é necessário para cobrir o déficit previsto pelo CNPq desde o ano passado, quando a Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2019 foi aprovada, para as bolsas.

No dia 16 de agosto, o ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes afirmou que há risco de que as bolsas do CNPq fiquem sem pagamento em setembro. Segundo ele, a liberação de recursos está na "mão da Economia e também da Casa Civil".
“Nós estamos sendo informados diretamente pelo conselho deliberativo do CNPq que a situação é gravíssima. Eu nunca imaginei que não teríamos recurso. Agora as piores expectativas estão perto de se concretizar”, disse o professor João Marques.

Dengue

O número de mortes por dengue triplicou no Brasil. Segundo dados do Ministério da Saúde, foram registrados 414 óbitos nos primeiros seis meses de 2019. No mesmo período do ano passado, foram 129.
O boletim da Secretaria de Vigilância em Saúde, que considera os casos entre 30 de dezembro e 22 de junho, aponta que o país teve, apenas neste ano, 1.234.527 de casos prováveis, ou seja, mais de um milhão de casos de dengue ainda não confirmados em laboratório. Neste mesmo período do ano passado eram pouco mais de 180 mil casos, o número é sete vezes maior.

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