Ex-deputado conclamou vereadores a lutar contra autoritarismo na universidade
Nesta quinta-feira, 24, o ex-deputado constituinte Hermes Zaneti ocupou a Tribuna Popular da Câmara de Vereadores de Porto Alegre para defender a autonomia da UFRGS no processo de escolha para reitor.
Zaneti foi indicado para representar o Comitê em Defesa da Democracia e do Estado Democrático de Direito e, durante fala de 10 minutos, apontou a gravidade da nomeação de Carlos André Bulhões como reitor da UFRGS.
Bulhões foi o terceiro colocado da lista tríplice aprovada pelo Conselho Superior da universidade, no qual obteve apenas 3 votos dos 77 representantes. O professor Rui Vicente Oppermann foi indicado como primeiro da lista após ser escolhido na consulta feita aos docentes, técnicos-administrativos e estudantes no mês de julho.
Veja como foi o resultado do processo
Há 28 anos, a escolha da comunidade da UFRGS era respeitada pelo presidente da República, que é quem assina as nomeações dos reitores das universidades federais. Mas, Jair Bolsonaro quebrou a tradição e indicou Carlos Bulhões, que segundo Zaneti, não tem legitimidade para defender a autonomia da UFRGS. “Não se trata de discutir legalidade, mas a legitimidade” desta indicação, disse.
Zaneti foi presidente da sub comissão dedicada à Educação na Assembleia Constituinte em 1988 e enfrentou a ditadura como presidente do CPERS. Para ele, a nomeação de Bulhões é inaceitável e se faz “no fulcro do entulho autoritário da ditadura militar, que não foi removido e hoje ainda serve a algum desatino”.
O professor afirmou que Bolsonaro “escolheu quem não tem votos” e daí advém “a questão que castra a autonomia”. Bulhões afirmou em entrevistas para a imprensa que vai agradecer pessoalmente a Bolsonaro, o que segundo Zaneti, “mostra o sentimento de servir a quem deve o favor da nomeação e não o de lutar pela universidade autônoma”.
Orçamento
Zaneti também demonstrou preocupação sobre a situação orçamentária da UFRGS, que em 2021 terá uma redução de 16% em relação ao orçamento de 2020. O ex-deputado questionou como alguém sem legitimidade “fará para mobilizar a univeridade na busca de verbas necessárias à manutenção da excelência dos trabalhos que a universidade vem desenvolvendo, a ponto de ter sido avaliada pelo próprio MEC como a melhor universidade pública do Brasil por oito vezes consecutivas”.
Um ponto da “mais alta gravidade”, apontou, é a tentativa de “desconstruir um trabalho sério que a universidade vem desenvolvendo na área do ensino, pesquisa e extensão com 45 mil pessoas envolvidas, sendo acusada de alinhamento político-partidário e ideológico, como tem sido a tônica do governo para as universidades públicas brasileiras”. Para Zaneti, a acusação é “para justificar a implantação de um viés ideológico pretendido pelo presidente da República”, o que na sua opinião, fere princípios constitucionais. “Escrevemos o artigo 207 da Constituição brasileira que diz que as universidades gozam de autonomia didático-cientifica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial. Esse princípio constitucional está sendo desrespeitado, agredido, porque um reitor sem legitimidade não conseguirá mobilizar a comunidade em defesa desses princípios”.
Zaneti encerrou conclamando os vereadores e vereadoras para “uma luta séria e dura mas necessária à defesa do grande serviço que a UFRGS tem prestado ao município de Porto Alegre, cujo povo, a Câmara representa”. Defender a nomeação do primeiro colocado da lista votada na comunidade universitária, Rui Vicente Oppermann, disse, “é defender o valor do voto, é defender a democracia, é defender um trabalho que vem sendo feito com qualidade numa universidade plural, crítica, competente, que tem orgulhado Porto Alegre, o Rio Grande e o Brasil”.
A Tribuna Popular foi realizada em sessão virtual e movimentou o chat da transmissão no YouTube com com muitas manifestações de apoio à comunidade da UFRGS. Os diretores da ADUFRGS-Sindical Sônia Mara Ogiba (Comunicação) e Jairo Bolter (Relações Sindicais) se manifestaram parabenizando a indicação de Zaneti pelo Comitê, presidido pelo associado do sindicato, Benedito César Tadeu.