Instituto de Física promove atividades para atrair a presença feminina na área das exatas.
Texto: Giliane Greff
Foto: Divulgação Meninas na Ciência
A adolescente Millena Borba vai concluir o ensino médio no próximo ano, mas já se decidiu pelo curso de paleontologia. A paixão por compreender os registros pré-históricos dos seres vivos e o mundo dos fósseis surgiu durante a participação dela no projeto Meninas na Ciência da UFRGS, quando estava no primeiro ano do ensino médio. “Sempre achei que seria arquiteta, mas através do projeto eu consegui conhecer melhor e gostar da área científica”, explica ela.
O caso de Millena ilustra uma realidade que ainda ocorre na área de ciência e tecnologia: a pouca participação feminina em alguns cursos de graduação, considerados como exclusivos para o público masculino, como é o caso da Física e Informática. A intenção de mudar esse cenário e incentivar a presença das mulheres no mundo acadêmico, especialmente nas áreas exatas, surgiu em 2013 com o projeto Meninas na Ciência. A dinâmica é levar docentes da UFRGS e do Instituto Federal a escolas da rede pública de Porto Alegre, para desenvolver ações inclusivas, como robótica, debates sobre igualdade de gênero, oficinas de ciências e produção de vídeos motivacionais para difusão de depoimentos, destacando a realização profissional de mulheres nos campos de ciência e tecnologia.
Segundo Daniela Pavani, professora de Física da UFRGS e fundadora do projeto, “o objetivo é sensibilizar a comunidade acadêmica e as comunidades mais carentes sobre o papel da mulher na sociedade, contribuindo para a eliminação de estereótipos de gênero”.
#Gurias, Partiu UFRGS
Além de ir até escolas da rede pública para incentivar a participação do público feminino, o projeto Meninas na Ciência viabilizou uma forma das adolescentes conhecerem o ambiente universitário, por meio da iniciativa #Gurias, Partiu UFRGS. Aproximadamente 35 meninas do ensino médio de escolas da capital têm a oportunidade de conhecer os laboratórios de Física, Astronomia e Informática. As atividades ocorrem mensalmente, durante um semestre, e incluem minicursos, oficinas nas áreas de ciência e tecnologia, além de uma visita ao planetário. Assuntos como mudanças climáticas e discussões de gênero relacionadas a profissões e estereótipos também são trabalhados.
Meninas na Ciência: Tecendo Redes
Para esse ano, o Meninas na Ciência será ampliado e vai permitir que estudantes de outros locais possam ter as mesmas oportunidades de quem mora na capital. Além da UFRGS, a universidade Feevale, em Novo Hamburgo, e o Instituto Federal de Santana do Livramento irão promover ações em parcerias com escolas da sua região, dentro do projeto Meninas na Ciência: Tecendo Redes. Para janeiro de 2020, está prevista uma exposição no museu da UFRGS, contando a história do projeto.
Apesar do sucesso das atividades, Daniela salienta que existe uma preocupação com a falta de recursos para as áreas de ciência e tecnologia. “Hoje, estamos enfrentando um corte de verbas na universidade e isso traz tensão, mas esperamos que haja, por parte do governo, uma mudança de visão do papel da universidade na sua relação com a sociedade.”
A docente também reconhece que há muito a ser superado na questão do preconceito contra a mulher. Ela destaca a realidade da segunda jornada de trabalho, que ainda é uma realidade para a maioria das mulheres, e o seu reflexo na carreira. No mundo do trabalho, além de poucas ocuparem cargos de direção, a remuneração média é cerca de 30% inferior a dos homens. “A gente vê o preconceito implícito na ideia de que as mulheres são menos capazes, e isso está na estrutura social, no comportamento e na mente das pessoas.” O desafio é “superar essa visão sobre o papel que a mulher ocupa na sociedade”, finaliza.