Especialistas debatem "Conjuntura Nacional na Perspectiva de Futuro".
Texto e fotos: Araldo Neto
O belíssimo prédio do Centro Cultural da UFRGS, recentemente reformado, foi palco da terceira parte do Painel "Conjuntura Nacional na Perspectiva de Futuro", organizado em parceria com o Instituto Latino-Americano de Estudos Avançados (ILEA). O encontro, que aconteceu na noite desta quarta-feira, dia 28, abordou o tema Cenário Político. Para os debatedores, um movimento conservador ao redor do planeta está alçando ao poder lideranças populistas e autoritárias. A razão, na avaliação deles, é uma insatisfação crescente com os modelos de democracia e com a ausência de respostas do sistema político tradicional aos problemas econômicos e sociais dos países.
Par a professora do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (UFRGS), Silvana Krause, há uma onda conservadora, que se apresenta com diferentes perfis pelo mundo. “O século XXI tem apresentado uma fragmentação política em vários países e visíveis processos de autoritarização, que demandam, na ciência política, uma nova agenda de pesquisa não concentrada nas análises de qualidades e nas tipologias das democracias”, aponta. Silvana avalia que há um sentimento crescente contra a política tradicional em várias partes do mundo. “Esses processos não podem ser compreendidos apenas pelo agravamento de questões econômicas e sociais, mas também como expressão meta-política, relacionada com um grau de insatisfação com os modelos de democracia e com a ausência de respostas do sistema político aos problemas econômicos e sociais. Democracias contemporâneas estão sendo ameaçadas justamente naquilo que é elementar, que está na raiz do liberalismo político absorvido, de forma hegemônica, por correntes ideológicas de esquerda e direita, especialmente após a terceira onda democrática e a queda do muro de Berlim”, destaca.
O professor emérito e ex-reitor da UFRGS, Hélgio Trindade, resgatou partes da história política brasileira. Segundo ele, a eleição de um candidato de extrema direita no país descortinou “um fato absolutamente novo”, mas lembrou que o traço dominante da política brasileira, do Império à República, sempre foi o de “uma lógica liberal”. “A história do Brasil é prodiga em conservadorismo liberal não democrático. O Brasil consegue combinar uma lógica liberal, que não é liberalismo, é apenas uma lógica, com uma práxis autoritária permanente”, disse. Para o ex-reitor, a universidade terá o papel de fazer uma análise crítica e séria deste novo momento político. “Tudo isso, nos leva a fazer uma autocrítica, que precisa estar combinada com a nossa crítica ao novo que está vindo aí”, afirma.
Professor de Políticas Públicas da UFRGS, André Marenco destacou que as democracias são “enormes excepcionalidades no mundo”. Sobre a atual onda conservadora, ele descreveu o perfil das lideranças populistas e autoritária ao redor do planeta, que inclui “o não compromisso com as regras democráticas e constitucionais, a negação de legitimidade de oposições, o encorajamento aos próprios aderentes ao exercício da violência, sobretudo a violência contra opositores e grupos vistos como negativos, e a restrição de liberdades civis para oponentes e oposições”.
Utilizando como referência o livro “Como morrem as democracias”, de autoria dos cientistas políticos Steven Levitsky e Daniel Ziblatt, Marenco afirmou que todos os extremistas chegaram ao poder mediante o fracasso das forças políticas democráticas e com compromisso constitucional em consertar a sua ação. Ele apresentou elementos comuns que estes os novos governantes têm adotado em vários países. “Capturar o judiciário, neutralizar a oposição e promover alterações nas regras constitucionais. Este é o script”, descreve. Para André, outro elemento importante que abre caminhos para lideranças populistas e autoritárias é a incapacidade de forças políticas democráticas e constitucionais em consertar a situação. “FHC, Ciro Gomes e Lula não foram capazes de fazer isso”, exemplifica.
O diretor da ADUFRGS-Sindical, Eduardo Rolim, chamou atenção para as mudanças econômicas no mundo contemporâneo, que acabaram diminuindo a importância da política. Ele citou um “paroxismo extremo de mudanças”, que o mundo viveu pouco a pouco nas últimas décadas, como nos casos da desnacionalização das economias, a ascensão econômica da China e a indústria 4.0. “Saímos de pactos políticos, do pós Segunda Guerra, e hoje vivemos pactos econômicos”, afirmou. Essa transformação acabou fazendo da Organização Mundial do Comércio (OMC), o grande organismo multilateral do planeta, fazendo com que a economia seja cada vez mais aberta. “A progressiva concentração de renda, que daí decorre, começa a explicar um pouco por que a economia suprapartidária passa a presidir as relações. O que importa é ganhar dinheiro e o mercado financeiro ser incontrolável pelos estados”, afirma.
Próximas etapas do painel "Conjuntura Nacional na Perspectiva de Futuro":
6 de dezembro – Cenário Educação
Coordenadora: Jane Tutikian (vice-reitora UFRGS)
Apresentadores: Marcus Vinícius de Azevedo Basso (Matemática/UFRGS), Fernando Becker (FACED/UFRGS) e Sandra de Deus (pró-reitora de Extensão UFRGS)
Ativadores: Vladimir Nascimento (pró-reitor de Graduação) e Suzi Camey (pró-reitora de Assuntos Estudantis UFRGS)
13 de dezembro – Cenário Ciência e Tecnologia
Coordenador: Luis da Cunha Lamb (pró-reitor de Pesquisa UFRGS)
Apresentadores: Carlos Alexandre Netto (ICBS/UFRGS), Marcia Barbosa (Instituto de Física/UFRGS), Nádya Pesce da Silveira (Instituto de Química/UFRGS)
Ativadores: Luigi Carro (Instituto de Informática/UFRGS), Lucia Kliemann (Faculdade de Medicina/UFRGS)