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Segunda-feira, 02 de março de 2020

Helenir Schürer explica a situação do magistério e dos funcionários de escolas na volta às aulas.

Após uma greve de quase 60 dias, encerrada em assembleia no dia 14 de janeiro, a presidente do CPERS/Sindicato, Helenir Schürer, explicou ao portal Adverso como está o clima de retorno às aulas para os professores e funcionários da rede pública estadual. Confira:

PA - Quais são os efeitos da greve para o magistério e funcionários de escolas estaduais?

Helenir - Nossa última greve foi, talvez, a mais importante dos últimos tempos, porque, pela primeira vez na história, conseguimos colocar a pauta da educação no centro do debate. A sociedade respondeu positivamente, dando apoio de uma forma nunca vista. Tivemos mais de 315 Câmaras de Vereadores aprovando moções de apoio à greve, a Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (FAMURS) também se posicionou favorável, politicamente, pela primeira vez na história, assim como a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Tivemos muito apoio da sociedade e dos pais. Este movimento forte fez com que, dentro da Assembleia Legislativa do RS, fossem aprovadas algumas emendas ao projeto que, se não o deixou ideal, pelo menos amenizou diversas perdas que teríamos, como a pretensão do governo de utilizar os triênios para recompor nossos salários. Então, nesse primeiro momento, serão usados os triênios, mas, depois, não mais. O governo terá que pagar o piso e reajustar os salários a partir de 2021. Ainda estamos lutando pelos nossos funcionários, que ficaram desassistidos. Também estamos buscando construir uma frente parlamentar ou um grupo de parlamentares da base do governo na Assembleia na tentativa de algum diálogo com o governo sobre o que ficou pendente.   

PA - Com que ânimo os professores e funcionários das escolas estão voltando às aulas? 

Helenir - Com que ânimo voltam os professores que estão com 51 meses de salários atrasados e com corte de ponto? Muitos não conseguiram, sequer, retirar o 13º salário por conta da dívida contraída durante os períodos de parcelamento e atrasos de salário. Os professores e os funcionários estão voltando com uma carga emocional muito pesada. A nossa categoria tem muitas pessoas adoecidas. Aliás, o maior índice de laudos que há na Secretaria da Educação do Rio Grande do Sul, hoje, é por conta de doenças psicológicas e sabemos que isso se atribui à instabilidade econômica que temos nos dias de hoje. Ou seja, já havia instabilidade com o atraso de salários. Agora, com o não pagamento, o governo resolveu “educar pedagogicamente”, como diz, através da sua insensibilidade, apesar dos professores estarem recuperando as aulas. O governo desconhece que, no governo Collares, tivemos 22 dias de salários não pagos, assim como no governo da Yeda também tivemos dias de salários não pagos e, apesar disso, a categoria continuou fazendo a luta. Então, o governador deveria estudar um pouco de história do Rio Grande do Sul para saber como se deram esses embates e quais foram as respostas da categoria para ver que isso não tem nada de pedagógico, mas de opressão e castigo. A categoria, com certeza, irá se levantar na hora necessária. Neste momento, estamos retornando às aulas com mais de uma data de início de ano letivo, porque tiveram escolas que aderiram totalmente à greve e outras que o fizeram parcialmente. Isso para conseguir cumprir com o direito de 30 dias de férias de todos os professores e funcionários.

PA - O CPERS está negociando com o governo ou tem outra perspectiva?

Helenir - O governo continua fechado à negociação. Temos um governo que é bom de diálogo no marketing, mas não existe diálogo com o governo, na realidade. Estamos conseguindo estabelecer algum diálogo na Assembleia Legislativa com os mais diferentes partidos, apostando na capacidade dos deputados de convencerem o governo a negociar pontos que ficaram nebulosos. Por exemplo, o governo, hoje, além de não pagar salário, não tem data e índice nenhum para dar reajuste para os nossos funcionários, que têm os menores salários. Muitos deputados estão do nosso lado, achando que o governo deve nos pagar, já que recuperamos. Queremos resolver isso. 

Além disso, o governo, de uma forma quase ditatorial, vai penalizar os professores e funcionários que participarem de assembleias e de qualquer atividade do sindicato, descontando o dia desses trabalhadores. Isso é uma atitude anti-sindical, que me deixa estarrecida, porque o governador é um jovem e um jovem com ideias tão retrógradas que ataca a organização dos trabalhadores. Então, precisamos definir estes pontos e reverter.

PA - Como fica o calendário deste ano? 

Helenir - Vamos ter diversos inícios de ano letivo conforme o tempo de greve que cada escola fez e continuaremos cumprindo o nosso dever, que é garantir os 200 dias de aula com as horas que os alunos têm direito, porque a nossa luta nunca será contra o aluno. O aluno é a nossa razão de viver e de existir. Continuaremos respeitando a comunidade escolar, os pais e os nossos alunos, cumprindo nosso dever e assegurando o que é direito deles.

PA - De que forma outras categorias e a sociedade podem contribuir na defesa da educação pública e a valorização do magistério?

Helenir - Atualmente, na situação de penúria em que estamos vivendo, continuamos com a arrecadação de cestas básicas para entregar para nossos colegas que mais necessitam. Além disso, hoje temos a implantação de uma nova base curricular, que vai retirar o direito amplo do conhecimento dos alunos de escola pública, o que não acontecerá com a escola privada. Estamos muito preocupados e convocando os pais, através de plenárias, para esclarecer que não é possível que o governo negue aos alunos das escolas públicas o conhecimento que necessitam para poder disputar uma vaga, inclusive, no mercado de trabalho. A consequência disso é que os nossos alunos terão muito mais dificuldades no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), no vestibular e na disputa de vagas de empregos com melhores salários. Não é justo que o governo retire dos filhos dos trabalhadores, que fazem tanto sacrifício para estudar, o direito de ter o pleno conhecimento. Já fizemos a denúncia no Ministério Público e precisamos que os pais juntem-se a nós para restabelecer o direito do pleno conhecimento aos alunos. 

Não ter acesso ao pleno conhecimento significa diminuir conteúdos, como o número de aulas de português e matemática, retirar algumas disciplinas que são importantes ou deixar apenas uma aula semanal resultando na falta de conteúdo. Enquanto isso, nas escolas particulares, os alunos continuarão tendo todo o preparo necessário. Inclusive, muito orgulho em dizer que hoje, na UFRGS, a maioria dos alunos provém da escola pública. Com essa proposta do governo, certamente, isso iria mudar novamente. Os nossos alunos da rede pública serão excluídos da universidade. Não queremos isso. Ensinamos eles a sonhar com a universidade e faremos tudo o que for possível para que continuem lutando conosco para concretizar este sonho.                                                                                                                                                                                                                                      
Não queremos dois tipos de escolas no Rio Grande do Sul, como as escolas de excelência, que poderão se tornar as escolas particulares, e uma escola de segunda classe, que poderão vir a se tornar as escolas públicas. Queremos igualdade de oportunidades para que todos possam viver melhor.

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