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Sábado, 19 de janeiro de 2019

Cargos estratégicos para elaboração do exame seguem sem substitutos oficiais. Nomeado na nova gestão, Murilo Resende ficou apenas um dia como diretor da Avaliação da Educação Básica.

Texto Beatriz Juca - El País 

Foto Marcelo Camargo 

 

Porta de entrada para as universidades federais, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) teve seus resultados divulgados na manhã desta sexta-feira sem uma cara do Governo para representá-lo nem maiores pistas sobre os novos rumos do maior vestibular do Brasil. Alvo de críticas do presidente Jair Bolsonaro por uma suposta afinação ao que chama de "doutrinação marxista", o Enem passaria a ser supervisionado neste mandato pelo economista Murilo Resende, um militante da Escola sem Partido sem experiência em Educação, mas tão alinhado às ideias do presidente que chegou a ter sua indicação para diretor da Avaliação do Ensino Básico defendida pessoalmente por ele no Twitter. Resende, no entanto, só ficou 24 horas no posto. Sem maiores explicações do Governo, foi exonerado do cargo estratégico e renomeado apenas como assessor do Ministério da Educação.

O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), ao qual é vinculada a diretoria relâmpago de Resende, está há cinco dias sem um substituto oficial e atualmente funciona sob o comando interino do professor Carlos Eduardo Moreno. Sem a formalização de nomes para esses cargos e com o ministro da Educação, Ricardo Vélez, cumprindo agenda em Roraima, não houve sequer a tradicional coletiva de imprensa de anúncio dos resultados do Enem nesta sexta. Mas o Inep nega que haja maiores crises. Informa que a autarquia funciona normalmente e que será comandada pelo professor da FGV, Marcus Vinícius Rodrigues, já anunciado há semanas pela equipe do Bolsonaro. Sem explicar a demora para substituir a ex-presidente Maria Inês Fini (exonerada na última segunda-feira), o Inep diz apenas que a nomeação do novo presidente ocorrerá "em breve".

O órgão também não explica os motivos da exoneração de Murilo Resende. Ao ser anunciado para a diretoria de Avaliação da Educação Básica, economista foi alvo de críticas do setor educacional pela falta de experiência na área e por declarações polêmicas como a de que os professores brasileiros "não querem estudar de verdade". Discípulo do guru da ultradireita Olavo de Carvalho e militante contra a "doutrinação marxista no ensino", Resende já havia dito ao jornal O Globo que não deveria fazer grandes alterações na prova do Enem deste ano, já em elaboração. Mas sinalizava para uma atuação contra o que chama de "ideologia de gênero".

Este, aliás, foi o argumento usado por Jair Bolsonaro para defendê-lo. "Seus estudos deixam claro a priorização do ensino ignorando a atual promoção da 'lacração', ou seja, enfoque na medição da formação acadêmica e não somente o quanto ele foi doutrinado em salas de aula", escreveu o presidente nas redes sociais, em referência ao Enem de 2018, que abordava um dialeto LGBT chamado pajubá. Nas últimas semanas, porém, Resende foi acusado de plágio. Nas redes sociais, internautas identificaram semelhanças entre o artigo A Escola de Frankfurt: satanismo, feiúra e revolução, publicado por ele no ano passado, e o artigo The New Dark Age: The Frankfurt School and ‘Political Correctness’, texto de 1992 de Michael Minnicino.

Ainda assim, Murilo Resende foi nomeado na última quarta-feira como diretor da Avaliação da Atenção Básica. E exonerado no dia seguinte, por decisão do ministro Vélez e de Marcus Vinícius Rodrigues, segundo a assessoria do Inep. A portaria, no entanto, foi assinada pelo ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni. Agora, Resende assume um cargo inferior no Ministério da Educação, mas ainda assim com influência sobre o principal vestibular do Brasil. Assessor especial da Secretaria de Educação Superior, atuará em grupo especial de trabalho no âmbito do Inep que, entre determinadas atribuições, ajudará no acompanhamento, análise e direcionamento do Enem. Nas redes sociais de Bolsonaro, Onyx e Vélez, há um silêncio sobre a questão. Por meio de nota, o MEC explica que a transferência de Resende objetiva que "o novo assessor especial consiga desenvolver o trabalho de forma ampla e substantiva". O Governo ainda não divulgou quem deverá coordenar o Enem no lugar de Resende.

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